sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

DUAS DOCES E INCURÁVEIS PERTURBAÇÕES


Sofro de um vício e de uma doença incuráveis: bibliocolismo e Doença Genealógica. No primeiro caso a denominação e exata descrição desse insidioso vício, que há muito me possui, fui encontrar no blog BRAVO, do escritor Paulo Roberto Pires. Tudo começou com uma dose única, há longos anos atrás, de “ História do Mundo para Crianças” de Monteiro Lobato. Desde então, necessitando de doses cada vez maiores, desencaminhei também a família para facilitar a aceitação desse dulcíssimo mau. O resultado: livros na biblioteca, nos quartos, na sala e até na dispensa. São listados oito pontos fundamentais para a caracterização do vício. Excetue-se um deles e teremos o meu estado descrito à perfeição. Diz aquele escritor: 

que o bibliólico Jamais sai de casa sem ter alguma coisa para ler. “Serve revista, jornal ou bula de remédio, mas o bom mesmo é um livrinho - e ajuda a passar o tempo em metrô, consultório ou fila, além, é claro, de ser ótima proteção contra chatos interativos”; (Certa vez recebi crítica ferina por estar no antigo Bar do Chico, lendo e tomando uma cerveja).

que não consegue “passar por livraria ou sebo sem dar uma ‘olhadinha’. E, raramente, dá uma olhadinha sem dar uma compradinha.” (É a mais absoluta verdade. Estou transferindo o sebo “Recebo” para a minha casa, todo santo sábado. O problema é que Maria (a dona) tem umas viagens para Recife e as estantes voltam a se encher);

que é capaz de mudar o caminho e chegar atrasado em reunião  “para comprar aquele livro fundamental. Que às vezes será lido dali a dois anos. Ou continuará fechado por outros dois”; (Quase perco o início de reunião da Andifes à procura de livros em Brasilia).

que o “bibliólico cheira. Muito. E, proustianamente, tem lembranças associadas aos aromas dos livros. O livro francês é o do bom: quando novinho, é praticamente uma viagem a Paris.” (Sei de casos avançados em que o viciado tem até mesmo vontade de morder o livro); 

que “O bibliólico é um ótimo negociante. Não pode ver uma oferta. Eu mesmo já comprei três exemplares de um mesmo livro de Nabokov. Um de cada vez, pensando que não tinha comprado antes. Só pelo bom preço. Ah, sim: até hoje não o li.” (São vários os livros que tenho em duplicata. Antigamente, um em casa e outro na Universidade para algumas doses imediatas.); 

que “O bibliólico tem compulsão por obras completas.  Quando cisma com um autor, sai de baixo: vai comprando tudo o que pode, mesmo que dele só tenha lido um livrinho - do qual gostou muito.” (É o meu caso com Jorge Luis Borges de quem li apenas O Aleph mas continuo comprando); 

que “O bibliólico causa sérios transtornos à família. Ninguém em casa aguenta mais as sacolinhas de plástico e as caixas de papelão das livrarias virtuais. Por isso, ele costuma se livrar das primeiras andando pela rua e mandar entregar as últimas no trabalho.” (Não é o meu caso. As vezes penso que minha mulher está em estado pior que o meu); 

que “O bibliólico é, em geral, um sujeito pacato. Mas, cuidado, pode ser muito agressivo quando alguém chega em sua casa e, diante das pilhas e mais pilhas de livros, lança a pérfida dúvida: “você já leu isso tudo?” Ora bolas, isso é pergunta que se faça?” (Normalmente respondo que não, mas que vários livros da minha biblioteca me dão prazer antecipado, pelo prazer que ainda me darão.)

Já a chamada Doença Genealógica,inoculada juntamente com a idéia da minha origem marrana,foi descrita, já há algum tempo, por uma de suas vítimas, Doug Holmes. Pode ser diagnosticada facilmente pelos seguintes sintomas:
1.O paciente, continuamente fica pedindo por nomes, datas e lugares. 
2.O paciente tem uma expressão pálida em sua face e, frequentemente parece ser surdo ao cônjuge e filhos, não tendo gosto por nenhum tipo de trabalho, exceto o de, fervorosamente procurar em registros, bibliotecas e cartórios.
3.Tem uma compulsão para escrever cartas e passa hora sentado ao computador.
4.Reclama com o carteiro quando este não lhe trás correspondências ou ameaça chutar o computador se não tem e-mail para ele.
5.Frequenta lugares estranhos, tais como: cemitérios, ruínas e áreas remotas e isoladas no interior do país. Faz chamadas secretas à noite e esconde as contas telefônicas do cônjuge.
6.O paciente resmunga consigo mesmo e tem um estranho olhar. Tem uma compulsão estranha por juntar e espalhar papéis velhos por toda a casa, deixando pilhas de papel por todo o lado, com nomes e números estranhos.
Não se conhece cura para esse mau. A Doença não é fatal, mas se torna progressivamente pior.Sua natureza incomum é tal que quanto mais doente o paciente, mais ele ou ela parecem gostar, algumas vezes dançando sozinho e gritando “Achei, Achei”. (No meu caso, cada novo ascendente que descubro e acrescento à minha árvore genealógica, pela euforia, sobe-me a pressão perigosamente).
Na passagem do ano, nada de votos e juras de mudanças e tratamentos. Que Deus me salve; mas não me cure.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

LEITURA LENTA OU RÁPIDA?


O mundo está ficando cada vez menor, e o tempo, cada vez mais curto: este o padrão da época em que vivemos. A idéia é que quem deseja ter sucesso, deve estar integrado e fazer parte desse sistema. Caracteriza bem o período, a denominação de fast, rápido, ao importante momento da alimentação – o fast food, e a chamada Leitura Dinâmica, que promete elevar a capacidade de leitura, das 150 a 250 palavras por minuto do leitor comum, para o patamar de até 3.000 palavras por minuto.

Evidente que há quem pense diferente. Ao fast food contrapõe-se hoje o slow food. É a busca da desaceleração, não só quanto à alimentação, como nos demais aspectos da vida. O canadense Carl Honoré, com o seu livro In Praise of Slowness: How A Worldwide Movement Is Challenging the Cult of Speed, deu o pontapé inicial nesse movimento chamado de Slow Movement. Em português: movimento lento ou quem sabe, devagar. O movimento defende o Slow Travel, o Slow Shopping, o Slow Design, o Slow Reading etc. Este último, em contraponto claro à leitura dinâmica. Pelo menos quanto à leitura pelo prazer de ler.

Na apresentação de um desses livros que ensinam a Leitura Dinâmica, pode-se ler: Até a investigação literária, ou entretenimento puro e simples devem ser feitos de maneira eficiente, rápida, se quisermos ficar em dia com o acervo literário cada dia mais extenso e rico. É bem verdade que em determinado momento os autores do livro admitem que A prática de leitura reflexiva e pausada é fundamental na formação da cultura e da personalidade.Isso em respeito à noção de níveis de leitura. 

Uma coisa é correr o olhar rapidamente em um jornal, em busca das notícias que interessam, ou em um documento legal, em busca de determinados artigos; outra bem diversa é sentir o prazer do texto, a sonoridade das palavras escolhidas, a riqueza vocabular, a linguagem fluida e harmoniosa, a adjetivação original. Aqui, só a leitura lenta. Afinal, o artista da palavra escreve com intenção estética, e espera, pelo meu envolvimento no seu texto, que me torne co-autor. Quantas correções, consultas a dicionários e pesquisas para a composição do texto. Não, a leitura dinâmica, na velocidade de 3.000 palavras por minuto (aproximadamente 7,5 textos como este), não permitirá que me envolva na história, que me apaixone pelos personagens, que atinja a fruição de que fala Barthes. Assim, desligue a TV, o computador, esqueça o celular, busque um lugar confortável, leia calmamente e só assim você poderá entender porque Dom Casmurro é tido como um dos melhores e dos mais refinados romances da literatura mundial.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

JOÃO PERGENTINO



Na página 304 do vol. I da importante obra de Raimundo Soares de Brito “Ruas e Patronos de Mossoró”, encontramos o verbete sobre João Pergentino ou João da Silveira Martins. Diz Raimundo com a habitual justeza da frase que caracteriza o seu texto: “... foi figura popular e querida em Mossoró.Ocupou o cargo de Oficial de justiça por longo tempo. Foi também um folião apaixonado dos carnavais de rua da cidade. Faleceu a 29 de dezembro de 1974.”

Conheci de perto João Pergentino, morando na rua Marechal Deodoro, vizinho ao Colégio Antonio Gomes, no Bairro Paredões, já velho, fumando e bebendo muito. Tenho lembrança de que sua relação com a família, não era muito fácil. Tempos depois ao falar sobre ele com um seu parente próximo, notei a pouca estima com que era tido entre os seus. Era filho de Maria da Conceição Filgueira e de Pergentino da Silveira Martins.  Por conta desta ligação genealógica, não me chamava pelo nome, mas sim de “parente”.
João foi uma figura muito interessante de autodidata, que tive a oportunidade de encontrar na adolescência.  Demonstrava uma constante preocupação com assuntos culturais que a maioria de nós levava na galhofa. Como carnavalesco, era o animador do bloco dos índios que sempre se apresentava no carnaval. Pelo parentesco e pelo carinho que me dedicava, sempre o ouvi com respeito e atenção, mesmo quando estava bêbedo. 

Em determinado momento decidiu chamar-nos, a mim e a alguns amigos, por outros nomes. Coube-me o apelido de Martim Soares Moreno, e completou: o conquistador da virgem dos lábios de mel. Um outro garoto seria doravante Pitágoras, outro Aristóteles e todos riam com a idéia. À época nada sabia sobre o tal Soares Moreno. Só muito depois encontrei o fundador do Ceará romantizado em Iracema, de José de Alencar.  

Outra vez, pela manhã, em um daqueles bares do bairro, aos primeiros goles disse-nos: “Ontem à noite, bêbado, passei mal e pensei que ia morrer, mas não queria morrer sem esclarecer uma dúvida cruel: se o golfo do México era o maior golfo do mundo”. E não soubemos responder a essa crucial pergunta, surgida em momento tão inusitado.
Às vezes superava-se declamando poemas. Um deles me ficou na memória: Fiel, que hoje sei foi escrito por Guerra Junqueiro. Sem dúvida identificava-se com o mísero pintor da poesia, que leva para o seu muquiço um cão abandonado:
Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boêmio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão ;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
O clímax ocorre quando Fiel - o cão, após ter sido expulso, retorna. O artista embrutecido, tenta livrar-se dele novamente, lançando-o em um rio, e nesse ato cai-lhe o gorro na água. O contraste entre a fidelidade do animal e a insensibilidade humana nos deixava emocionados.
Depois, subitamente
O artista arremessou o cão na água fria.
E ao dar-lhe o pontapé caiu-lhe na corrente
O gorro que trazia
Era uma saudosa, adorada lembrança
Outrora concedida
Pela mais caprichosa e mais gentil criança,
Que amara, como se ama uma só vez na vida.

E ao recolher a casa ele exclamava irado :
"E por causa do cão perdi o meu tesouro !
Andava bem melhor se o tinha envenenado !
Maldito seja o cão! Dava montanhas d'oiro,
Dava a riqueza, a glória, a existência, o futuro,
Para tornar a ver o precioso objecto,
Doce recordação daquele amor tão puro."
E deitou-se nervoso, alucinado, inquieto.
Não podia dormir.
Até nascer da manhã o vivido clarão,
Sentiu bater à porta ! Ergueu-se e foi abrir.
Recuou cheio de espanto : era o Fiel, o cão,
Que voltava arquejante, exânime, encharcado,
A tremer e a uivar no último estertor,
Caindo-lhe da boca, ao tombar fulminado,
O gorro do pintor !
Fica postada aqui esta nota sobre essa interessantíssima figura mossoroense, que me permaneceu na memória, como um tipo inesquecível. Foi quem primeiro me falou sobre as origens judaicas dos Filgueiras, que me estimulava a escrever poesias, pois neto de Tibério Burlamaqui. Poesias que nunca escrevi. E se escrevi, não publiquei.

domingo, 12 de dezembro de 2010

NE ME QUITTE PAS



Jacques Romain Georges Brel foi um cantor e compositor belga, francófono. Morreu ainda jovem aos 49 anos e eternizou-se ao compor a música Ne me quitte pas em 1959. A música teria sido escrita em um momento de desentendimento com sua companheira, a também cantora Suzanne Gabriello. Com a letra original em francês, a música tem sido interpretada por muitos outros cantores, vertida para os principais idiomas do mundo.
Tenho-a em seis interpretações diferentes: Fagner, em português, numa versão de Fausto Nilo, Nana Mouskouri , Sylvie Vartan e Mireille Mathieu em francês, Frank Sinatra em inglês e Gino Paoli em italiano. A versão americana, If you go away, cantada por Sinatra, não corresponde à letra original. Todas porem guardam o lirismo de origem. Não poderia decidir qual é a melhor. Há uma outra interpretação belíssima, desta vez em ritmo afro-caribenho (salsa), interpretada por Yuri Buenaventura,  para o prazer dos admiradores dessa eterna melodia.

domingo, 5 de dezembro de 2010

A BIBLIOTECA DO PADRE FAUSTINO

O Pe. Faustino Gomes de Oliveira, vigário colado da paróquia do Apodí (Igrejas de Nossa Senhora da Conceição e de São João Batista), era natural de Pernambuco, como menciona no seu testamento escrito em 05 de janeiro de 1853, que incluí no meu livro “Velhos Inventários do Oeste Potiguar”.Dois destaques no inventário do padre: declara-se  pai de nada menos do que sete filhos, devidamente reconhecidos (casos como esse são encontradiços naquele período, embora o número de filhos fuja um pouco aos padrões comuns) e a biblioteca do padre, não mencionada no testamento, mas descrita no inventário. Possuía aquele pároco 105 volumes sobre os mais diversos temas afetos a sua missão de cura das almas, e em certos momentos também dos corpos, dos seus paroquianos. Passo a listá-los tal qual mencionados no inventário de 1857:


Quatro breviários; dois volumes do Dicionário por Constancio, Portugues/Frances e Frances/ Portugues; quatro volumes de Lições de Direito da Natureza de Mons. Felis; Biblia em latim contendo doze volumes; Livro de Todos (Medicina) em brochura;Livro de Telemaqui; Compendio de Segredos Medicinais; um volume do Novo Mestre Frances; um volume do  Manual Pratico por Gomes; quatro tomos de Medicina Domestica; um volume de Instrução Moral; um volume do Novo Sistema dos Tumores; um volume de Instruções de Serimonia; um volume de Atlas Moderno; um volume de Gramatica Francesa por Lomand; um volume de Aviso a gente do mar; um volume de Cirurgia e Anatômica; uma obra de Virgilio; um primeiro Virgilio; cinco volumes de Dicionário de Pinto; cinco volumes de Dicionário Theológico; cinco volumes de Theologia Crhistã; um volume de Homo Apostolicus; um volume de Istoriologia Medica; Serurgia Classica; um volume de Serimonial Eclesiastico; dois volumes de Theologia Moral e Universal; um volume do Pronptuario de Sintaxe; um volume do Tratado das Mais Frequentes Infermidades; seis volumes de Instituição Theologica; um volume das Epistolas e Evangelho; quatro volumes do Cathecismo de Mompelier; dois tomos de Costumes dos Cristãos; um volume do Manual Inciclopedico; dois tomos de Dicionario por Moraes; dois tomos de Medico e Cirurgião da Roça e uma porção de livros no número de dezoito faltando folhas e em mau estado.

Os breviários mencionados, do latim brevis, “curto” ou “conciso”, reuniam em um só volume, para facilitar a recitação individual, todos os elementos necessários para a celebração do Ofício Divino, como salmos, hinos, leituras e notações, especialmente para a utilização pelos padres. Hoje, Liturgia das Horas.
O livro “Aviso à gente do mar”, tem na verdade o seguinte longo título: “Aviso à gente do mar  sobre a sua saúde: obra necessária aos cirurgiões de navios, e em geral a todos os marinheiros, que andam  embarcados em navios, aonde não ha cirurgiões”. Foi escrito  por M. G. Mauran e traduzido da edição francesa, e aumentado com algumas notas por B.J.C. Cirurgião Môr da Armada Real para a edição de 1794 em Lisboa,  na R. Typ. de João Antonio da Silva impressor de Sua Majestade. Telemaqui deve ser Telemaquia  e se refere à primeira parte (cantos I a IV), da Odisseia, onde Telêmaco, filho de Odisseu, é a figura principal, à procura do pai há muito desaparecido, de quem só tem poucas e imprecisas informações.
O Dicionário de Pinto deve ser o Dicionário da Língua Brasileira editada em Ouro Preto em 1832, pela Tipografia de Silva, por Luís Maria da Silva Pinto, e o de Moraes, deve ser o Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Tipografia Lacerdina, 1813, 2ª edição, de autoria de Antonio de Morais Silva.
O Cathecismo de Mompelier (ou Montpellier) foi escrito por Carlos Joaquim Colbert, Bispo de  Montpellier, indicado na reforma pombalina de 1759 e ainda utilizado na segunda metade dos oitocentos.Visava a polir a natural rudeza dos meninos e dispô-los para viverem com o decoro próprio de sua condição, na Igreja e no estado.
A obra “Homo Apostolicus” foi escrita em 1759 por Alphonsus Liguori e em toda a sua extensão tinha o titulo de “Homo apostolicus instructus in sua vocatione ad audiendas confessiones sive praxis et instructio confessariorum”.Edição pela Typographia Remondiniana.
Essa a biblioteca do Pe. Faustino, representativa da literatura que deveria possuir um padre pontificando nos confins dos sertões nordestinos, em meados do século XIX.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

OS LIVROS DA EDITORA MIR


Como aluno do curso de Agronomia, período de vacas muito magras, o pouco dinheiro que pegava,  gastava com livros. E tinham que ser baratos. Aí é que entram os livros da Editora MIR e subsidiárias. Descobri-os, inicialmente, na Livraria Feira do Livro, gerenciada pelo Prof. Raposo, situada na Praça Felipe Guerra.Os livros, alguns deles em papel jornal, eram muito baratos, mas de qualidade excelente. Depois passei a comprá-los diretamente. Havia um jornalzinho com todas as publicações disponíveis. Um problema: os livros, na sua maioria eram escritos em inglês, francês e espanhol. 

A Editora MIR ainda existe, mas com a queda da antiga União Soviética, acabou o interesse de propagandear para o exterior, as vitórias do regime socialista. A qualidade dos livros resultava muito cara, mas o estado soviético cobria os gastos comprando-os para vender barato para o mundo (MIR significa Universo, mundo, paz).

São hoje livros raros, alguns deles muito caros, comparativamente ao preço daquela época. No mercado livre da internet, um livro de Matemática, em inglês, editado em 1976, custa R$ 150,00. Antes, talvez custasse  o equivalente a R$ 10,00 ou R$ 15,00.

Em alguns países da America Latina e Oriente Médio ainda ocupam espaço importante, bem como em países como Egito e Índia.
Possuo 36 dessas raridades que muito contribuíram para a minha formação. São edições que vão do ano de 1966 a 1988 e que guardo com carinho. Listá-los é obrigatório, pelo prazer que me dá revisitá-los.

Livros com utilização em Agronomia, Meio Ambiente e Biologia:

General Geology – O. Lange, M. Ivanova e N. Lebedeva, s.d
La Cybernétique telle qu’elle est – L.Rastriguine et P. Gravé, 1975
Fiabilité du Cerveau – E. Asratian et P. Simonov, s.d
La Zoologie Récréative – J. Zinger, 1968
L’ecologie au service de l’homme – V. Dejkine,1982
(Estes quatro últimos faziam parte da Série Science Pour Tous)
Control of Silkworm Reproduction, Development and Sex – V. A. Strunnikov,1983
Problems of Developmental Biology – N. Khrushchov, 1981
Fruit Biology – V. Kolesnikov, s.d.
Problems of the Development of the mind – A. N. Leontyev,1981
Higher Mathematics – I. Suvorov,s.d.
Principes d’agriculture tropicale – I. Dénissov,1982
La Révolution Scientifique et Technique et l’écologie – G.Goudojnik, 1980
Ecologie Globale – Mikhail Boudyko,1980
L’agrochimie – P. Smirnov, E. Mouravine, V. Storojenko, N. Rakipov,1977
Foundations of the physics of the biosphere – H. F. Khilmi, s.d.
The Chemical Protection of plants – G. S. Gruzdyev, V.A. Zinchenkov, V.A. Kalinin, R.I. Slovtsov, 1988.
Biochimie des cultures Tropicales – N. Rakipov, 1987
Colloid chemistry – S. Voyutsky, 1978
Chemical Kinetics and Catalysis – G. M. Panchenkov, V. P. Lebedev, 1976
Phisical Chemistry – V. Kireev, 1972
Quantitative Analysis - V. Alexeyev, 1967

Livros sobre saúde (e que alimentaram minha hipocondria)

Cuide el corazón y los vasos – Yu. Pushkar, D. Aronov, 1976
Maladies Internes – V. Kristman, s.d.
Infectious Diseases – K. Bunin, s.d.
Children’s Diseases – A. Koltypin, N. Langovol, V. Vlasov, 1966
Human Anatomy and Phisiology – V. Tatarinov, s.d.

Livros de cunho social e político

Ciência da Sociedade – Sem autor definido, 1980
Fundamentos del Comunismo Científico – V. Afanásiev, 1977
O Que é Capitalismo? – A. Buzúiev, 1987
O Que é Trabalho? – P. Sávtchenko,1987
Que é Propriedade? – M. Suvórova, BRománov, 1987
(Estes três últimos faziam parte da Série ABC dos Conhecimentos Sociais e Políticos)
Los Piratas del Eter – A. Panfilov, 1981
O Homem Soviético – G. Smirnov, 1978

E ainda:

Antenas – G. T. Markov, D. M. Sazonov, 1978
Principles of Radio Eletronics - A. M. Kugushev e N. S. Golubeva, 1979. 
Enciclopedia de las Maravillas – V. Mezentsev, 1981

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

DIÁRIO DO ENTARDECER


Releio, calmamente, as 865 páginas do “Diário do Entardecer”, de Josué Montello. O livro foi presente do Prof. Vingt-un Rosado em 30 de outubro de 1992. O escritor é acusado de ter escrito em excesso. Contudo, diz a crítica que com mais de cem obras publicadas conseguiu, como poucos, anexar uma extrema qualidade à alta produtividade que lhe é característica. Sobre isso ele escreveu: “ Há pouco mais de um ano, olhando a exposição de minhas obras em Paris, um jornalista me perguntou por que eu havia escrito tanto, a ponto de encher a parede do salão com a capa de todas elas. Respondi, fiel à minha simplicidade: Para ver se conseguia escrever melhor”.
São análises, lembranças, comentários, algumas anedotas acadêmicas do período que vai de 1967 a 1977. Por aí perpassam fatos envolvendo Machado de Assis, João Guimarães Rosa e outros escritores e políticos. Uma delícia.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

AVATAR E A SENSAÇÃO DE DEJÀ VU


Assistindo ao filme AVATAR, tive a nítida sensação de Dejà vu. Não por ter conhecido antes os Timespirits da Marvel Comics, que as más línguas acusam de terem sido plagiados por Cameron, na caracterização dos humanóides Na’vi. É que a temática utilizada é de caráter universal: nativos vivem onde existe importante fonte de recursos que interessa a um povo estrangeiro, colonizador e agressivo. O Diretor canadense tinha a seu dispor um vasto leque de exemplos históricos para o seu roteiro.
De minha parte, a sensação veio por já ter lido a respeito da famigerada Guerra dos Bárbaros, que se desenvolveu no Nordeste entre 1683 e 1713, dando continuidade ao extermínio dos nossos índios, iniciado por Duarte Coelho em Pernambuco. Câmara Cascudo negou-se a historiar essa guerra covarde e sanguinária. Li sobre ela em alguns dos Documentos Históricos, publicados por Rodolfo Garcia, e em Affonso E. Taunay no seu livro A GUERRA DOS BÁRBAROS, em edição publicada pela nossa Fundação Vingt-un Rosado.
No filme a corporativa humana RDA e seus objetivos, assemelham-se a iniciativa portuguesa de colonizar o Nordeste. O Rei português ordena que fizesse a maior guerra possível ao gentio bárbaro (...)ou para afastar das nossas terras ou para os extinguir...Essa luta desigual pelo domínio da terra, se deu em todo o pais, mas em nenhuma parte foi tão cruel como na nossa região. Não admira que tivesse resposta da parte dos Cariris - os nossos Na’vi (também de arco e flecha). Ousaria dizer que o famoso massacre de Cunhaú, visto assim à distância das conseqüências religiosas, foi bem uma dessas reações, mas não iria a ponto de ver no holandês  Jaco Rabi, o Jake Sully,colonizador que no final do filme fica do lado dos Na’vi, embora os batavos fossem considerados libertadores pelos índios.Tal como no filme, as tribos todas se reuniram em defesa de sua terra, no que se chamou de Confederação dos Carirís.
Escolho Antonio de Oliveira Ledo como o maior dos sertanistas do Nordeste e assim, equivale, na nossa comparação, ao Coronel Miles Quaritch, o vilão de Avatar. Poderia ser outro, entre vários dos nossos ancestrais, que ao longo de séculos dizimaram os nossos indígenas. Mas a comparação termina aqui, pois no cinema o Diretor pode fantasiar atribuindo a vitória à parte mais fraca - os Na’vi, enquanto que no mundo real dos séculos XVII e XVIII, com a ajuda dos bandeirantes paulistas, ganhou a RDA, ganharam os colonizadores.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO


Lançado no Brasil em abril desse ano, mais um livro do escritor Umberto Eco, professor aposentado de Semiótica da Faculdade de Bolonha, dessa vez em parceria com o dramaturgo Jean-Claude Carrière. Dois bibliófilos.Trata-se de “NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO”. O livro do título é o livro tradicional, no formato de papel, em contraste com o e-book – o livro eletrônico. Eco diz que o livro é como a colher, o machado, a roda ou a tesoura, que “uma vez inventados, não podem ser aprimorados”. Não há como discordar dos autores quanto a essa perenidade do livro como suporte da leitura, como condutor de informação, até mesmo pela dificuldade de utilização da nova forma eletrônica, para determinados tipos de leitura.Como  exemplo dessa dificuldade, diz Eco: “Passe duas horas lendo um romance em seu computador, e seus olhos viram bolas de tênis”.  Acontece, porém, como bem sabe o grande ensaísta italiano, os livros não são feitos apenas para suportar ficção. Pense-se, na facilidade de pesquisa de palavras e temas em um livro de 700 páginas formatado em PDF e se verá o benefício do meio eletrônico. Um dia gastei todos os meus trocados para comprar os vinte e tantos volumes da Enciclopédia Britânica, que foram rapidamente encostados a um canto, substituídos pela Enciclopédia Compton  e logo depois pela Grolier, ambas em meio eletrônico, cada uma em um único CD Rom e baratíssimas, facilmente utilizáveis no computador. É verdade que o livro no formato tradicional não desaparecerá, mas que seja bem-vindo o livro digital.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DAS APRESENTAÇÕES


No dia 18, as 19:hs, na livraria Siciliano do West Shopping Center de Mossoró,foi feito o lançamento do livro de Ana Luiza Burlamaqui da Penha. A prima deu-me a honra de prefaciar sua obra premiada. “Das Apresentações” recebeu o prêmio de poesia “Othoniel Menezes”,do ano de 2008. Duas observações: primeiro a qualidade da sua poesia, depois a reunião de membros da família Burlamaqui de Mossoró e Natal que possivelmente não mais se realizará.Narciso Souto,Fernando Rosado,Ana Maria de Souza Rosado, Ana Luiza (a autora), Penélope Burlamaqui e Marcos Filgueira, todos descendentes de Tibério Burlamaqui, poeta piauiense cujos ascendentes italianos podem ser vistos aqui. Da página 83 retiro um exemplo de sua arte:

Poucas conversas
preliminares
os abraços
murmúrios
sussurros
gemidos
O suor medrando
pelos poros...
De novo só o silêncio
entrecortado por um Vinícius
no escuro da vida
No quarto
de branco só o lençol
e a luz do corredor iluminando
a ceremônia do adeus.

LADRI DI BICICLETTE

Há duas semanas atrás assistimos,eu e minha filha Tétis, a essa obra prima de Vittorio de Sica, filme do nascente Neo-Realismo Italiano, produzido em 1948.Os atores foram recrutados do proprio povo, são amadores.Drama pungente do pós-guerra na Itália. Um pai e seu filho em uma busca frenética pela bicicleta que lhe havia sido roubada e da qual dependia seu emprego.Um retrato social doloroso, artisticamente bem apresentado.

DESISTÊNCIA


Encontro no West Shopping Mossoró com o escritor Rubens Coelho e sua esposa. Fala-me de seus desencontros com a AMOL- Academia Mossoroense de Letras.Segundo ele, fora, em épocas diferentes, convidado e substituído três vezes como candidato a uma vaga na Academia, razão pela qual abria mão definitivamente da imortalidade. É aquele intelectual, um dos mais atuantes da nossa cidade. A Academia estaria enriquecida com sua presença. Sua carta sobre o fato, que recebi por e-mail, teve repercussão na imprensa.

domingo, 21 de novembro de 2010

APOSENTADORIA


Alguns recém formados do Curso de Agronomia da UFERSA me procuraram solicitando cartas de recomendação para o mestrado. Aposentei-me no dia 03 de setembro, acredito, na hora certa. Durante a vida acadêmica minha maior preocupação foi sempre a sala de aula, daí a ligação com os alunos. Ademais, a velha ESAM, só muito recentemente, às vésperas de se transformar em Universidade, é que produziu alguma pesquisa. Extensão, menos ainda. A partir de 1995 até ano de 2009 foram 22 alunos orientados por mim nos seus trabalhos monográficos de final de curso.  A aposentadoria requer algumas adaptações e ajustes. No meu caso, sem dúvida o espaço psicológico deixado pelos horários das aulas é o principal problema. Passados já mais de dois meses, todas as noites ainda sonho na sala de aula. A passagem como vice-reitor, embora honrosa e exercida com o melhor de mim, não parece ter deixado rastros no inconsciente.

NOTAS DO "COMÉRCIO DE MOSSORÓ"


Em 14 de outubro de 2010, comecei a digitar para o meu site, informações retiradas do jornal “Comercio de Mossoró” fundado em 1904 por Bento Praxedes Fernandes Pimenta e que circulou até o ano de 1917. Por varias ocasiões tive a necessidade de procurar informações nos velhos jornais mossoroenses.Tal aconteceu, por exemplo quando escrevi “RIMANDO: A poesia social de Tibério Burlamaqui”.Fiz muitas anotações, principalmente a respeito das notícias sobre falecimentos e casamentos, dentre outras, com a idéia de algum dia disponibilizar, à comunidade, aquelas informações, o que farei em breve.  

NOITE DA CULTURA


Na Loja Maçônica Jerônimo Rosado, no dia 25 de 09 deste ano de 2010, mais uma Noite da Cultura e então o lançamento do livro “A PALAVRA ESTÁ NO ORIENTE”. Tive a idéia de fazer este trabalho com o objetivo de dar mais uma contribuição para a identidade dessa minha querida Loja Mãe nos seus 33 anos.Nas suas 66 páginas procurei reunir, de forma sintética,informações sobre os ex-veneráveis, incluindo o atual,suas diretorias e seus discursos, de posse ou de entrega do cargo.

sábado, 20 de novembro de 2010

UM QUASE DIÁRIO

Pretendo, a partir do meu lugar e em minhas horas feriadas,compartilhar os assuntos de meu interesse: fatos do cotidiano,cinema, livros e seus autores, pensamentos.Na abertura do seu "Diário do Entardecer", com data de 22 de agosto de 1967, Josué Montello registrou sua labuta diária, que agora me inspira:

A cada novo dia, acomodo-me nesta cadeira, e a página em branco me desafia, para que eu lhe diga o que sinto, o que vejo, o que devo escrever. Curvo a cabeça sobre o papel; seguro a pena, e a pena vem vindo pela folha compassiva, deixando ali minhas emoções.