sábado, 6 de outubro de 2012

Visita a um centro espirita



Desde muito cedo tenho me identificado como um  livre pensador dedicado-me  a ler e estudar tudo que acho interessante, sem considerar o preconceito a respeito de qualquer assunto , ai incluindo-se indagações a respeito de Jesus, astrologia e espiritismo etc. Muitos livros possuo sobre estes assuntos.Os espíritas tem agora um canal exclusivo de televisão(tvcei) e de tanto ver de repente decidi, agora com mais tempo, voltar  a estudar essa filosofia espiritualista. Relembrei em primeiro lugar a objeção das igrejas cristãs, contra a pratica espírita, atribuindo-a a ação de demônios como fica claro no livro Coisas do demônio de José Pereira de Sousa. Claro, não posso dizer que tenha feito até o presente um estudo profundo,mas já dá para notar que a coisa não é bem como se diz, inclusive  ao contrário do que se apregoa, há na literatura judaico cristã, várias citações coincidentes com as idéias kardecistas, e em alguns casos de forma surpreendente.

Nos  Apócrifos

Veja-se por exemplo o capitulo  8 do livro Sabedoria de Salomão, que faz parte do Canon católico, estando ausente da bíblia hebraica e protestante, mas muito importante para o conhecimento sobre o pensamento judaico àquele período em que foi escrito, diz nos versículos 19 e 20 o seguinte: 19 Eu era jovem de boas qualidades, coubera-me, por sorte, uma boa alma;20ou antes, sendo bom, tinha vindo num corpo sem mancha.A afirmação de ter vindo, pressupõe uma existência anterior.que por merecimento recebeu um bom corpo.

No (Apocalipse de Abraão 21:7 -22:5). E disse eu: “Ó Soberano, poderoso e eterno! Por que estão as pessoas dessa imagem deste lado e do outro?” E disse para mim: “Estes que estão à esquerda são uma multidão de tribos que existia previamente … Os da direita da imagem são as pessoas que separei para mim das pessoas com Azazel; esses são os que tenho preparado para nascer de ti e serem chamados de meu povo”  ou seja preexistência das almas que constituiriam depois o povo judeu, nascido de Abraão.
No Novo testamento
A idéia reinante entre os hebreus,já presente na Sabedoria de Salomão era de que por pecados passados, recebia-se um corpo defeituoso.como se vê no caso neotestamentário a seguir:

 "E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados Mateus 9:2-5
Isso leva ao caso muito discutido e analisado do cego de nascença :
Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?  Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus." (João 9:1-3) o importante aqui é a pergunta não a resposta. A pergunta foi suscitada pela crença já citada e explicitada   anteriormente .Pois naquele caso, Jesus  deixará explicito que seria possível a  expiação de um pecado anterior através do defeito físico.

No velho testamento

Mais forte argumento em favor de vida antes da vida pode-se ver em "[Jeremias 1:5] ;
Deus diz; Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta." Não é possível outra conclusão; Jeremias existiu antes de nascer.embora não fique claro se houve reencarnação anterior.
Em 1.º Samuel, 2:6 a sentença de Ana, mãe de Samuel, a qual diz que "o Senhor faz descer ao xeol(No Judaísmo She'ol é o local de purificação espiritual ou punição para os mortos) e faz tornar a subir dele" e também o Salmo 71, versículo 20, que afirma: "me restaurarás ainda a vida e de novo me tirarás dos abismos da terra";fazem crer no retorno depois da morte.
Os pensadores espíritas acrescentam ainda Eclesiastes (12:7), "o pó (corpo) volta à terra, como era; e o espírito (eu imortal) a Deus, que o deu". Trata-se de referência à preexistência da alma! Há evidente metáfora na linguagem, tomando-se o mundo "divino" (para os antigos) ou "espiritual" (para nós) pelo próprio "Deus". Portanto, de lá viemos e para lá voltamos, repetidamente, pois o mesmo Eclesiastes diz, como vimos acima, que Deus fará renovar-se o que se passou.
O que dirá sobre isso a corrente mística judaica – a Kabbalah? Aqui os pensamentos são mais explícitos, senão vejamos

Diz o Zohar ou livro do esplendor que o rabino Shimon ben yochai afirmou; ¨Sabei que vossas almas são imortais. A alma parte somente quando o Anjo da morte tomou posse do corpo.adiante diz: ¨Pois a Alma que não cumpriu sua missão na terra é retirada e transplantada novamente na terra. E ainda a Alma que pecou deve voltar a terra, até que, por sua perfeição, seja capaz de alcançar o sexto grau da região de onde emanou. ¨Esta a opinião cabalista sobre a imortalidade da alma e sua reencarnação.

Diz ainda o Zohar que o homem agonizante pode ver coisas sobrenaturais como: os parentes e amigos já  falecidos, tal como diz o espiritismo e as experiências de quase morte estudadas hoje pela ciência.

A noção do gilgulim ou transmigração das almas existente na Kabbalah, inspira-se em I Samuel 25,29.onde é mencionado que Deus lança mão das almas do seu bornal e lançando-as para longe, como pedras em uma funda.

Pois aconteceu que decidi visitar o Centro Espirita Auta de Souza(não confundir com umbanda ou macumba), com a mente aberta que sempre tive, e lá encontrei um ambiente de paz e espiritualidade, bem organizado e prazeroso repeti a visita levando desta vez a minha filha que também teve a mesma boa impressão.

O primeiro momento da sessão é denominado de diálogo fraterno, é utilizado por qualquer um que deseje conversar sobre seus problemas, com algum membro da casa, segue-se depois uma palestra a primeira que assisti foi sobre o Aborto , mostrando todos problemas de tal ato e da segunda vez a palestra foi sobre o uso de drogas, ambas muito bem apresentadas. Após a palestra são dados passes a quem desejar, tudo isso precedido por orações e elevação da mente para Deus e aos bons espíritos.

Tudo em contrario ao eu se costuma dizer, sem conhecer.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

GENEALOGIA GENÉTICA E O MEU Y-DNA.

A determinação do Y-DNA haplogroup permite ir fundo no passado e identificar o antigo grupo étnico  a que pertencia  um dos nossos ancestrais  masculino(por exemplo Celtas, Germânico, eslavos, Greco-Roman, bascos, iberos, fenícios ou judeu, etc.), podendo ajudar  em alguns casos na confirmação de dados genealógicos obtidos de outras maneiras.Já faz algum tempo que consegui organizar toda minha ascendência patrilinear pela família burlamachi de origem italiana comerciantes de seda e banqueiros , originada no castelo de Avane , na província de pisa estabelecendo-se em 1200, na cidade de Luca na toscana. Toda essa região foi de antigo domínio etrusco na Itália central, onde os estudos genéticos demonstraram a existência dos haplogrupos  I (3%, I2a (2%), I2b (5%), R1a (3,5%), R1b (43%) G2a (8,5%a0, j2 (19,5%) j1 (2%), E1B1B (10%) , T+(L) (3,5%) . aproveitando as atividades de  meu filho Aquiles juntamente com os demais membros de um projeto de pesquisa da UFRN, que foram participar da apresentações do projeto 14-bis de divulgação tecnológica,  na casa do Brasil em Londres,durante o período das olimpíadas  solicitei que ele procurasse um laboratório para fazer o teste do Y-DNA haplogroups, afim de verificar qual daqueles haplogrupos  comuns na Itália central seria coincidente  com o nosso, o teste foi procedido pela DDC – Dna diagnostics  Center. Ao custo de 98 libras  dias atrás chegou o resultado, ele Aquiles e todos os seus descendentes atualmente meu neto Athos e ascendentes masculinos da linhagem patrilinear, somos do haplogrupo E1b1b, um subclade do tipo E oterceiro mais comum  na Itália central.Ao procurar aprofundar a questão veio a surpresa, esse é um dos haplogrupos fundadores das linhagens patrilineares judaicas modernas como explico a seguir. 

Haplogroup E1B1B
O haplogroup E1b1b (Y-ADN)(antes conhecido como E3b1)É uma  das  maiores subdivisãoes  do grande haplogrupo  E e  é encontrado em todos os  grupos judaicos  espalhados por todo o mundo. Se considera que seja o segundo haplogroup mais freqüente  na população  judaica  depois   do haplogroup J. Também se observa que figura nas comunidades de judeus Ashkenazi (até 20%), 9Sepharditas(até 30%) ,Caraitas e Samaritanos Este haplogrupo esta presente também  entre árabes israelenses(20%), iraquianos (10,8%), turcos(13,6%),judeus kurdos (12%),  Ethiopian Jews(falashas) (18%). Os  Kohanim Samaritanos pertencem a este haplogroup  e afirmam  que descendem de Eliezer filho de Aaron.(através do patriarca da familia que viveu  no século XIV chamado  ‘Abed Ela b. Shalma que era da casa de ‘Abtaa de Itamar, filho de  Aaron.Alain Farhi em um Preliminary Results of Sephardic DNA Testing encontrou este mesmo e3bnas s seguintes familias sefaraditas: Capouya , Douek Dwek Gubbay,Marshall ,Marzouk, Modiano ,Rousso e Russ.


Como explicar a existência dessa linhagem semita, nos Burlamaqui, que nunca foram associados aos judeus?
A primeira hipótese é que esse haplogrupo tenha sido trazido para a Europa nas migrações de agricultores, a partir do oriente médio. ou então tenha vindo com os etruscos, que hoje se sabe eram oriundos da Anatólia.Heródoto registrou a lenda de que os Etruscos (conhecidos pelos gregos como Tyrrhenians) teriam vindo da  Lydia na  Asia Minor, na moderna  Turquia.

É bom lembrar ainda que com a nomeação de um grupo de judeus como financistas oficiais da cúria romana, pelo papa Alexandre IV em 1255, deu início ao estabelecimento de grandes negociantes e comerciantes judeus em Roma. E a partir de 1275, foram sendo fundadas comunidades judaicas na Itália central e meridional. Em 1350, a Itália passara a ser um refugio seguro, em função das perseguições que se faziam nos demais países europeus.A próspera comunidade judaica italiana chegou a atingir os 50 mil membros  e em 1438 foi fundado em Florença o Banco de Pisa, o maior banco judaico da Itália.

Encontra-se traços de fluxo gênico a partir do oriente próximo para a toscana, especialmente na vila de  Murlo. As amostras coletadas na toscana mostram a existência dos  haplogroups E3b1-M78 (e3b = e1b1b), G2*-P15, J2a1b*-M67 and K2-M70 com  freqüências muito similares aquelas  observadas  na  Turquia e áreas vizinhas, mas  significativamente diferentes dos haplogrupos  das regiões circunvizinhas da Itália.
 

Estudos recentes sugerem que o haplogrupo e1b1b seja de fato originado do oriente médio e não na Africa do norte,os   pesquisadores  concluem que  os  dados , tomados  das populações  modernas da toscana, sustentam  o  cenário de  uma entrada  pos –Neolithica  de genes originados  do  oriente  médio para  a população atual da toscana. 

Outras pessoas com o mesmo haplogrupo: Adolfo Hitler( bastante debatido se a informação é verdadeiora)e Barack
Obama, Napoleão Bonaparte (que sabia que tinha antepassados orientais), William Harvey, os irmãos Wright , Albert Einstein(judeu). Gadaffi, Caravaggio(toscano), St Augustine ( natural da Agélia), Ario( de origem líbia), , Lyndon Baines Johnson, Saloum Cohem sacerdote samaritano, David Frederick Attenborough, os borgias de origem  marrana  espanhola. todas as familias Samaritanas apresemtam os haplogroups J1 ouJ2, exceto a familia Cohen que apresenta o  haplogroup E3b1a-M78.

Ficou evidenciado que nossos ascendentes ialianos se inserem nos haplogrupos da Itália central e que partencemos a uma das linhagens patrilineares judaicas mais prevalentes. Já nos identificávamos com o judaísmo por sermos descendentes dos cristãos-novos, agora essa identificação fica mais forte e precisa, pois derivada de estudo genético.embora estejamos conscientes de que a qualidade de judeu não está ligada a posse de qualquer tipo de gene,mesmo porque esses haplogrupos, possivelmente tenham se originado muito antes da formação do povo de Israel, mas os estudos nessa área são feito dessa forma, por comparações das freqüências e coincidências e distribuições.

domingo, 5 de agosto de 2012

Á memória de Alexandre Masrua

Alexandre Masrua(direita) e do Dr Almir de Almeida Castro(esquerda)
Conheci Carmélia Pereira Masrua como minha aluna na disciplina de Entomologia I,  do curso de agronomia da UFERSA.A a genealogia  tem  em sido meu hobby por muitos anos, e desde o primeiro contato com os alunos, eu sempre procurava, através dos sobrenomes, identifica-lhes as suas raízes geográficas. Não foi diferente com Carmélia. Na primeira aula, ao fazer a chamada, notei que o sobrenome Masrua não era comum aqui na nossa região e imediatamente perguntei se ela era de origem árabe e  ela confirmou , enquanto um outro aluno disse que  ela era árabe do Paraguai.Na continuação tive mais informações;  que seu avô era  de  fato de origem libanesa e que viverá em Mossoró,tempos atrás disse-me ela  que seu pai se sentia solitário  sem conhecer ninguém de sua família.lembrei então de procurar algumas informações no ótimo livro do memorialista Raimundo Nonato da Silva, escritor, que escreveu, na série Minhas Memórias do Oeste Potiguar, o livro Estrangeiros em Mossoró e lá registrou a presença de vários estrangeiros que por aqui passaram desde tempos remotos. São doze verbetes incluindo atores, padres e outros com atividades diversas em Mossoró. De fato, encontrei poucas, mas interessantes informações sobre o libanês Alexandre Masrua, avô de Carmélia Diz a seu respeito aquele escritor martinense:

“Alexandre Masrua (conhecido como  marruá) – turco, negociante, homem calmo e prestativo, com um  grande armazém de bijuterias aberto na rua Doutor Almeida Castro, mantendo sempre um grande e renovado sortimento de artigos  femininos talvez um dos primeiros da cidade. Um dia, um desafeto de Alexandre mandou assassiná-lo a tiros, uma noite ele foi atacado no seu sítio Canto recebeu alguns balaços. Mas socorrido sobreviveu. Era grande  amigo do Dr. Almeida Castro(28/08/1858- 22/06/1992).o sitio canto depois passou para a posse de Jerônimo Rosado.
O turco Masrua desenvolveu no seu sítio uma intensa atividade de apicultura, talvez um dos primeiros apicultores da cidade.

Houve um outro dessa família em nossa cidade, chamava-se Ignácio Masrua,  também negociante,  chegara trazendo  um  variado sortimento de mercadorias do Rio de janeiro.nada mais há sobre esses turcos no livro de Raimundo Nonato.eram chamados de turco porque naquele distante período, a síria e o Líbano estavam sob o domínio do império otomano e eles chegavam com passaporte turco.
O aluno estava enganado, Camélia , é descendente de libaneses legítimos. Os estudiosos da emigração Árabe no Brasil veja-se, por exemplo, Claude Fahd Hajjar em Imigração árabe: cem anos de reflexão, da Editora Ícone, fixam o ano de1860 para o início da primeira Leva desses imigrantes para o nosso país, e a entrada se dava de fato no Rio de Janeiro de onde veio Ignácio, talvez a convite de Alexandre, seu provável  parente. , sendo os primeiros no Brasil, os irmãos Zacarias que se estabeleceram nas ruas da alfândega e dos ouriveres no Rio de Janeiro.

Não consta que Alexandre tenha casado, mas foi pai de pelo menos um filho:
F1. Alexandre Masrua Filho hoje com 56 anos que atualmente é comerciante aqui na cidade de Mossoró. O nome da empresa do ramo de material de construção é COBEL (Comercial de tintas Beirute Ltda.) em homenagem ao seu finado pai. da  união estável com Maria Eliete Mateus Pereira teve;
N1. Pablo Alexandre Pereira Masrua
N2. Carmélia Pereira Masrua(informante)
3. Sophia Pereira Masrua
4. Gardênia Pereira Masrua
E da união com Maria Helena de Andrade teve; 
n5.Ébano Andrade Masrua
N6. Mariana Lenara de Andrade Masrua,
 e com a atual conjugue Kátia Silva Rocha foi pai de:
n6. Abraão Murab Rocha Masrua.

Foi  tudo que consegui  sobre esse pioneiro, que vindo de tão longe, veio com seu trabalho, colaborar para o desenvolvimento de Mossoró, e acrescentar  por aqui, sangue semita, a uma genealogia já muito enriquecida de sangue judeu, trazido pelos cristãos-novos.Mossoró inteira é descendente dos Lucenas, através do patriarca Manoel Nogueira de Lucena.Carmélia tenta agora, uma justa homenagem ao seu avô, denominando uma das ruas da cidade e necessita porem de mais informações sobre Alexandre, que não pude encontrar até o momento, por mais que tenha procurado. Qualquer ajuda será bem-vinda. Informações como  certidão de óbito, currículo e histórico.esse curto post talvez ajude um pouco sobre o histórico.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

a morte e a morte de marcos filgueira


resultado de tomografia computadorizada, as áreaas indicadas correspondem a áreas lesadas.
Normalmente,só achamos que certos eventos só ocorrem com os outros.foi assim comigo também.
Aproximadamente um mês atrás, em visita ao meu antigo departamento, uma aluna me informou que havia corrido o boato que eu estava muito doente ou havia morrido. Considero essa a minha primeira morte. Em 21 de abril outra aluna enviou-me uma mensagem porque estava preocupada com um sonho que tivera. Havia algo no ar que eu não percebi. depois fiquei sabendo que minha irmã também havia tido sonho semelhante há sempre uma normal curiosidade sobre os fatos acontecidos. Assim, faço o presente relato sobre esse momento perigoso, que graças a Deus estou conseguindo atravessar. Com ajuda da família esta sendo mais facil.
Sempre gostei muito de futebol. E naquele sábado dia 09, meu lazer durante a tarde seriam os jogos da Erurocopa e o amistoso entre Brasil e Argentina.Estava eu em paz, na cama esperando início dos jogos quando comecei a suar muito, como se o ambiente tivesse ficado muito quente.havia um ventilador nas proximidades, tentei me levantar da cama para ligá-lo e não consegui, havia uma rede armada perto da cama, sentei-me no chão e puxei a rede com um dos pés, e tentei usar a rede como apoio para me por de pé, e não consegui, permaneci sentado no chão, momento em que minha esposa chegou e desconfiou que alguma coisa estava errado. Eu disse que nada havia acontecido, eu apena desejava ficar em pé, ela ligou para minhas filhas que por sua vez ligaram pata o samu, mas minha esposa lembrou-se de chamar Josélia, enfermeira, que mora em frente a nossa casa, foi ótimo, ela disse, não vamos esperar pelosamu, vamos colocá-lo no carro e levá-lo imediatamente para o Wilson rosado. Foi difícil, mas conseguiram me arrastar até o carro e Penélope conduziu-me ao pronto socorro.a partir de então, passei a encarar uma realidade completamente nova, estava na UTI,mas não acreditava que tivesse sofrido um AVC, até o momento em que ouvi alguém dizer que a tomografia mostrou um resultado compatível com um AVC do tipo isquêmico.a partir de então, seguiram-se varia coletas de sangue, urina e outros exames.e passei a tomar pílulas e mais pílulas, o processo que ainda continua agora com o objetivo de evitar outro avc.insistentemente me perguntavam se eu me sentia melhor. Um dos médicos após ver a tomografia teria dito que eu não diria trabalho a família, que eu sairia da UTI andando, como de fato aconteceu. minha resposta era sempre a mesma, eu não me senirtirá mal antes e, portanto não podia dizer que estivesse melhor,eu não sentirá dor, nem vômitos, não havia perdido a consciência, assim, me sentia sempre bem como antes.não não acreditava quando me diziam que eu chegara ao hospital  com o lado esquerdo do copo paralisado, e não me achava afásico. Mas como eu perguntava freqüentemente qual fora o resultado do jogo ninguém me respondia, comecei a acreditar que as palavras existiam apena na minha cabeça.
Após sete dias, um médico se aproximou do meu leiro, de número 8 e disse que pelo meu estado clinico eu deveria mudar-me para o apartamento, o que de fato ocorreu  quase imediatamente. O apartamento era bem mais conveniente, voltei a conviver com a minha família, e logo que tive acesso a internet, postei uma mensagem no facebook, para os ótimos amigos do facebook, que foram maravilhosos.agora estou em casa, seguindo religiosamente as recomendações médicas, tomando um monte de remédios com a finalidade de evitar outra ocorrência,alimentação controlada, sem sal e gordura, praticando apenas 15 minutos de caminha.resto do dia utilizo em leituras e navegando na internet.dia sim dia não a dr. Isabel Linhares vem me ensinar a falar novamente.estou sem seqüelas físicas, mai ainda não falo 100%, mas estou chegando lá.apesar de inseguro, já fui com meu filho fazer um feirinha no hiper, e domingo fui almoçar no shopping com a família.Amanhã meu filho Aquiles chega de Natal trazendo meu neto , aguardando insiosioso.a minha próxima morte será definitiva, não vai dar para contar nenhum historia.será contada. Quando Jó estava na pior,doente e após perder tudo, sua mulher lhe disse amaldiçoa Deus e morre e ele respondeu;recebi o bem por não deveria recebe também o mal. A vida é assim mesmo vamos a luta com paciência. Desejo muita paz e saúde para todos. no próximo post tratarei de genealogia.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM DIA FUI ELVIS PRESLEY


Ele se chamava, na verdade, Elvis Aaron Presley, era irmão gêmeo univitelino de Jessie Garon, que não sobreviveu ao parto. Consta que possuía origens judaicas, mas também descenderia de Cherokees e de alemães (o Presley do seu nome). Fez sucesso mundial a partir de 1956 com músicas como Heartbreak Hotel, Don't Be Cruel, Hound Dog, e centenas de outras que venderam cerca de 350 milhões de cópias dando-lhe o título de King of Rock and Roll

Havia também seus filmes que não se podia perder: O Seresteiro de Acapulco, Louras, Ruivas e Morenas, Feitiço Havaiano, Ama-me com ternura etc. Em Viva Las Vegas a apaixonante Ann-Margret, com quem contracenou, arrebatou nossos corações. 

Todos nós adolescentes queríamos ser Elvis Presley. As músicas, as garotas que conquistava nos filmes faziam voar nossa imaginação. Mas o máximo que podíamos fazer era cantarolar em mal inglês, Love me tender, It’s Now ou Never ou imitar toscamente o penteado do Rei do Rock.

Entre nós o fã mais exaltado se chamava Ernani Gonçalves, que morava ali entre as Barrocas e o São José. Ernani era mais velho e mais letrado que o resto do pessoal, acredito que de origens jaguaribanas.Havia estudado latim e um pouco de inglês e isso dava um poder danado sobre os demais.  Em sua casa havia posters de artistas famosos como do próprio Elvis, de Jayne Mansfield, de Sofia Loren (lembro por causa da fartura) e outras e outros, que ele e suas irmãs obtinham não sei onde. Ernani um dia se mandou para o sul maravilha e nunca mais voltou. Soube tempos atrás que falecera.
  
Para imitar o penteado do Rei, tínhamos que fazer duas coisas: manter o cabelo da parte lateral da cabeça fixado para trás e brilhoso,com costeleta, e caprichar no topete (chamávamos de trunfa). Para isso passávamos, sabonete úmido que ao endurecer mantinha o cabelo no lugar. Por cima do grude, passava-se um pouco de brilhantina Glostora ou Golgate.  Certa vez a chuva desmanchou toda a montagem, derretendo o meu penteado elvispresliano, tornando-o espumoso para gozação geral e minha angustia particular.

Um dia, um nosso amigo, José Augusto Apolinário, apareceu com um tipo diferente de  brilhantina,era vaselina, que ele disponibilizava para aquela vasta legião de Elvis Presleys dos Paredões. A substância era obtida no O Vagalume situado na zona do baixo meretrício da cidade denominado de Alto do Louvor, tradução popular para Art nouveau, nome de uma antiga casa de prostituição que existira por lá, e que emprestou o nome a toda aquela região. O pai de Zé Augusto, José Apolinário Filho (Zequinha Apolinário), era o proprietário do O Vagalume, o que facilitava o comércio da vaselina. O uso que se fazia por lá não sei, só sei que no nosso cabelo dava um efeito excelente, prescindindo do sabonete.

Meses atrás reencontrei José Augusto, hoje competente secretário da Loja Maçônica João da Escócia, e relembrando esses instantes de nossa adolescência, prometi que escreveria algo sobre aqueles momentos. Afirmou-me ele que o antigo, O Vagalume, ainda existe e na pose da mesma mulher que juntamente com seu pai administrava o local no passado, ali nas proximidades do que chamávamos de Rasga – o baixo meretrício do baixo meretrício, onde nunca ousei entrar. Vizinho havia o desaparecido Bar Jaguaretê, onde pela primeira vez experimentei uma chamada de cana, para nunca mais. Lá não era meu lugar, ninguém sabia de Elvis Presley.

terça-feira, 27 de março de 2012

AMADORISMO NO ENSINO SUPERIOR


Considerando que as atividades universitárias são abrangidas pelo tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, os textos que se referem ao Ensino Superior são unânimes em afirmar que algumas competências são necessárias para a prática docente nesse nível educacional. O domínio em profundidade de uma determinada área do conhecimento evidencia-se em primeiro plano como essencial. Depois, é fora de dúvidas que o professor universitário deve possuir habilidades em pesquisa.

Não havendo curso de graduação para a formação desse profissional, a LDB indica legalmente os cursos de pós-graduação para a sua formação:

Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.

Considera aquele documento que ao fazer mestrado ou doutorado, o futuro professor se habilita com profundidade em uma dada área do conhecimento (área de concentração) e realiza importante treinamento em pesquisa ao conduzir sua dissertação ou tese. Mas não fica descartado o especialista, desde que cumprida a Resolução nº 12/83 do antigo CFE que obriga, nos cursos de Especialização, o oferecimento de disciplinas de formação didático-pedagógica de pelo menos 60 h/aula.

A falha do Art. 66, esta no fato de que, exceto nas pós-graduações strictu sensu em áreas estritamente ligadas à educação, nesses cursos não se fala, no geral, em Didática ou Pedagogia, essenciais à atividade plena da docência, talvez pela noção errada de que esses são assuntos voltados apenas para os níveis médio e fundamental. Sobre isso dizem Selma Garrido Pimenta e Léa das Graças Anastasiou (2011):

Na maioria das instituições de ensino superior, incluindo as universidades, embora seus professores possuam experiência significativa e mesmo anos de estudos em suas áreas específicas, predomina o despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem...

Dessa deficiência de conhecimento, vem o fato de que os professores desconhecem até fatos básicos como as diferenças na natureza das disciplinas e até mesmo entre assuntos numa mesma disciplina, que obrigaria a utilização de estratégias de ensino diferentes em cada caso. O predomínio de um único método de ensino – o discursivo, o mau uso das novas tecnologias, e o desrespeito às diferenças individuais dos alunos, são algumas outras provas do que dizemos. Disso resulta que embora concursados, nossos professores são, na verdade, amadores, como diz o professor Gilberto Teixeira no seu site Ser Professor Universitário, e sem a habilitação desejada para o ensino.  

O Ensino, primeiro item do tripé, a atividade mais característica e trabalhosa da academia, a atividade que recebe uma regulamentação mais estrita pelas instâncias universitárias, que determinam o que (conteúdo), quanto (carga horária) e quando  deve ser ensinado (horários), além de ser exercida por quem não está completamente habilitado, ainda recebe, por incrível que pareça, os efeitos negativos da pesquisa desenvolvida pelo docente. Esta, a pesquisa, segunda atividade do tripé, é sem dúvida a mais atraente e prazerosa, a que dá prestígio, mas que na prática, afasta bons professores da sala de aula, já que estes prezam mais serem tidos como pesquisadores, que qualquer outra coisa,deixando o ensino em segundo plano. Ousaria dizer, embora não generalizando, que o grande pesquisador é fraco professor, pela sua ausência, não refletindo no ensino, seu desempenho na pesquisa, como se poderia esperar. Nas Federais, confunde-se com servidor do CNPq, antes que do MEC.

Admito que o problema da formação desse profissional é complexo e segundo Cleoni Maria Barboza Fernandes pouco abordado em pesquisas e seminários e, ainda pouco discutido no interior das instituições universitárias.Não se resolve através de cursos de extensão de 30 ou 40 horas sobre Ensino e Aprendizagem. No início de minhas atividades procurei sanar essa deficiência através de textos e cursos variados sobre estratégias de ensino-aprendizagem, psicologia da aprendizagem e técnicas pedagógicas, com resultados razoáveis. Talvez a criação de disciplinas formativas, na pós-graduação, como já fazem algumas Universidades, ministradas por professores devidamente habilitados, seja a solução para o amadorismo no Ensino Superior.

quinta-feira, 8 de março de 2012

UVB-76, UVB-76 – 93 882 NAIMINA…



Quando chegamos do centro da cidade, verificamos que nossa casa havia sido arrombada, pois a janela lateral do meu quarto de dormir estava aberta. Dizem que de casa de pobre ladrão só leva susto, mas neste caso ele sabia o que viera buscar: meu B 481 da Philco, único item com algum valor de troca existente na casa. Custara-me uma bicicleta e mais alguns trocados. Era meu sonho de dexista, minha janela para o mundo. Esse modelo foi produzido entre os anos de 1970 e 80 e apresenta nove faixas de ondas curtas. Alem das faixas normais de AM, OC e FM, as faixas exclusivas para os 31, 25, 19, 16 e 13 metros, facilitam muito a sintonia.

      Eu praticava o dexismo sem saber que o fazia, apenas tinha muito prazer em captar, através das ondas curtas, as emissoras de rádio dos mais distantes países do mundo. Aperfeiçoava meu inglês acompanhando as transmissões de emissoras como VOA (Voice of America) ou da BBC de Londres (British Broadcasting Corporation), embora como quase todas as outras rádios internacionais, mantivessem seus departamentos de língua portuguesa, como ocorre até os dias de hoje. Na caça por novas emissoras, entrava pela madruga. Por mais fraco que estivesse o sinal, esperava pacientemente, ouvido colado, até que o locutor anunciasse o nome da emissora. Escrevia e recebia cartões (Cartão QSL), boletins, como London Calling e letras das músicas da época com suas traduções. Prazer inesquecível para o meu espírito universal, preso naquele esconso subúrbio.

     Em uma fita K7 cheguei a registrar dezenas dessas transmissões. Dentre elas a Rádio Transmundial, sinal fortíssimo, que transmitia de Bonaire, ilha holandesa no Caribe, a Radio Tirana, da Albânia, que só falava em Enver Hoxha e nas transformações sociais engendradas pelo socialismo, como também ocorria nas transmissões da Radio Moscou, Radio Havana e Rádio Pequim (tudo mentira, um dia o edifício ruiu por completo). Ouvia também a Deutsche Welle (A Voz da Alemanha), a simpática Rádio Nederland e seu delicioso programa poliglota Happy Station, Kol Israel, a RAI, italiana, a Rádio França, com seu inconfundível Ici Paris, e muitas e muitas outras. Dá pra imaginar a sensação de tristeza e vazio, quando vi aquela janela arrombada e a ausência do meu rádio Transglobe B 481.

      Havia uma guerra ideológica pelas ondas do rádio, pelo uso da ionosfera. Panfilov, em Los Piratas del Eter, denunciava o que chamava de radioguerra, praticada pelo mundo capitalista contra as forças socialistas, com a proliferação de sinais direcionados à cortina de ferro. Os comunistas, por sua vez, foram e são ainda os campeões na utilização do que se chama de Jamming, interferência eletrônica que invadia a freqüência de transmissão, principalmente da BBC, (China, Cuba e as Coréias até hoje utilizam esse processo). Claro que o chamado mundo livre também usou do mesmo expediente prejudicando a recepção da propaganda comunista ao redor do mundo.  

      Mas também havia mistério no correr do dial. Como certas emissoras que transmitiam uma sequência contínua de números, seguida de alguns outros sons. Nunca liguei muito pra elas, até que li a respeito. Ouvi-as muito em francês. Eram chamadas de Estações de Números, até hoje não inteiramente explicadas. Também estranhas são as ditas estações Pica-Pau, que pareciam maquinas trabalhando produzindo uma irritante sequência de tac, tac, tac. Há muita especulação ainda hoje sobre o assunto. Parece coisa de Arquivo X. Aliás, a série Fringe, apresentou um episódio baseado nessa estranheza.

      Fala-se que uma dessas emissoras, a estranhíssima UVB-76, depois de vinte anos transmitindo a mesma sequência de bips, produziu algo diferente. Uma voz interrompeu a transmissão e falou o seguinte:

UVB-76, UVB-76 – 93 882 naimina 74 14 35 74 – 9 3 8 8 2 nikolai, anna, ivan, michail, ivan, nikolai, anna, 7, 4, 1, 4, 3, 5, 7, 4.

      Os curiosos, que observam continuamente essas emissoras, relatam que freqüentemente, conversas distantes e outros ruídos de fundo podem ser ouvidos pela estação sugerindo a utilização de um microfone ao vivo e constantemente aberto. Em 3 de novembro de 2001, uma conversa em russo foi ouvida: "Я - 143. Не получаю генератор. Идёт такая работа от аппаратной. ("Eu sou o 143. Eu não recebo o oscilador (gerador). " "Isso é o que a sala de operações está emitindo." ou "Essas são as ordens de operações."). Não é espantoso?

      Nunca desliguei completamente das ondas do radio, embora atualmente os muitos ruídos (todo mundo tem cerca elétrica) impeçam uma recepção adequada. Por onde andei, estudando, morando, ou trabalhando sempre fiz questão de ter próximo a mim, um radio receptor e logo que recebi meus primeiros trocados como professor da ESAM comprei outro Transglobe B 481. Também uso, com certa freqüência o computador na sintonia das emissoras distantes. O sinal é mais nítido, mas nada substitui a caça das estações estrangeiras, uma a uma, mesmo que se corra o risco de encontrar, ali pela esquina da faixa de 25 metros, alguma mensagem estranha e assustadora.

quinta-feira, 1 de março de 2012

DOS NOMES FEIOS


Com o título acima, Luis da Camara Cascudo publicou delicioso estudo na Revista do Livro, em 1956, embora não tenha ousado ir além do palavrão Merda, ao citar a reação de sua tia-avó, sempre que era surpreendida pelos sobrinhos. Dizia Cascudo que o vocábulo mais reprimido pela educação é justamente o que nos escapa de inopino como reação a uma determinada situação irritante.

Há um único dicionário do palavrão - os nomes feios - em língua portuguesa. Foi escrito por Mario Souto Maior e contém cerca de 3.000 termos. Depois de se debruçar sobre o carnaval, o folclore da cachaça, a medicina popular e outros aspectos da cultura popular nordestina, resolveu estudar esse interessantíssimo assunto. Foi sugestão de Gilberto Freyre, que fez também o prefácio da edição de 1979 e que dizia que no momento exato,sim, o palavrão é necessário. É insubstituível.

A explosão oratória através do palavrão se dá transgredindo os limites, mais como autodefesa que agressão. Limites postos pela conveniência social. Gustavo Barbosa, em sua dissertação de mestrado intitulada Grafitos de Banheiro – A literatura proibida, diz:

...se alguns assuntos ou práticas desordenam, incomodam e precisam ser excluídos do repertório socialmente desejável, é porque ameaçam a gramática estabelecida pela ordem cultural.

É fácil constatar o que se excluí preferencialmente: o obsceno, o imoral, o que se refere à sexualidade ou à excreção, que será também o que vai sair com mais veemência nos momentos de tensão.

Gustavo estudou essas expressões despudoradas, produzidas na solidão do banheiro, no anonimato, mas essa quebra dos limites pode ser constatada todos os dias em um verdadeiro filão público desse comportamento, nas reações às famosas Pegadinhas do Mução.

Embora considerado politicamente incorreto (essa praga se espalhou demais), Mução é um dos maiores humoristas do país e as criticas que recebe se devem, sem dúvidas por trabalhar as pegadinhas tendo como ponto forte a dolorosa reação aos apelidos e situações, sugeridas por amigos e parentes das “vítimas”. Alias, por si só os apelidos que aparecem no programa poderiam ser objeto de estudo antropológico e folclórico. Referem-se a todas as partes do corpo: pé de calango, perna de sabia, pitoquinha de arroz, barriguinha de polenta, peito de macaco, pescoço de mola, papada de porco, boca de cavalo, venta de suvela, orelha seca e por aí vai.

Durante os telefonemas, a menção do apelido de forma inesperada faz a “vítima” agir como descrito acima, com palavrões, com palavras feias. Como esperado, as reações agressivas se referem quase na sua totalidade a questões sexuais. Fela da puta é o que vem primeiro, competindo com a acusação de pratica homossexual: viado, fresco, baitola, travesti, bundeiro, demonstrando a idéia que o povo tem da inferioridade moral e do rebaixamento desse tipo de atividade sexual, como valor negativo em si mesmo. O apresentador também é mimoseado vez por outra de corno ou filho de corno.

Essa fixação na ofensa sexual tem como fundamento a percepção intuitiva da importância do ato reprodutor. Não por acaso John Alcock em seu livro Animal Behavior: an evolutionary approach, diz que o comportamento reprodutivo é o ato biológico mais importante do ser vivo e o objeto central da seleção natural. Rollo May, em Eros e Repressão, não diz diferente quando afirma que ...o sexo permanece a força procriadora, o impulso que perpetua a raça, a fonte do mais intenso prazer humano... o mysterium tremendum. Portanto, dizer que você ou seus parentes não o pratica da forma esperada, é a ofensa máxima.

O repertório de impropérios do programa é riquíssimo merecendo a atenção sugerida por Camara Cascudo, no artigo citado, para que etnólogos realizassem uma análise mais atenciosa e uma exposição mais lógica de sua persistência e vitalidade ao longo dos milênios, resistindo a todas as religiões, estatutos sociais e manuais de boas maneiras.

O sucesso das pegadinhas do Mução vem daí, dessa vontade de transgressão existente em cada um de nós, homens do povo ou doutores, e que nos diverte ao aflorar durante a humilhação alheia, afinal, pimenta no cú dos outros é refresco.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

TOMARA QUE CHOVA TRÊS DIAS SEM PARAR

Nunca gostei de carnaval. Tá certo que vem de longe, que serve de extravasamento e de válvula de escape das pressões do ano inteiro, mas não vai com o meu temperamento. Passa-me a sensação de alegria encomendada com dia para começar e terminar.

Minha lembrança mais antiga sobre a festa, me pega maldizendo o período que estava para iniciar. Eu era muito novo para racionalizações religiosas ou morais a respeito. Acredito que meu afastamento se dava e se dá pela sensação de desorganização, desregramento e mau gosto. Exemplos disso eram antigamente os chamados assaltos carnavalescos, verdadeira invasão de privacidade, ou os conhecidos Ursos que perambulavam pelas ruas, acompanhados de crianças, pedindo dinheiro, e ainda alguns foliões isolados vestidos de mulher, outros de penico na mão, com cerveja e algumas lingüiças dentro, à guisa de cocô e urina.  

Em um clube que ficava próximo ao hoje Mercado da Cobal, em Mossoró tive minha primeira experiência de baile carnavalesco. Minha mãe consentia que nossa vizinha, Fransquinha me levasse para as festas que lá ocorriam. Talvez tivesse uns dez anos de idade, e Fransquinha, já moça feita, dizia que era minha namorada. Iniciada a festa com o tradicional toque de Zé Pereira, a única coisa que fazíamos era pular e rodar em torno do centro do salão a cada música que era tocada pelo pequeno conjunto musical. Pulávamos o carnaval, como se dizia. Em um daqueles carnavais, as conversas sobre uma moça (o nome já se foi), que sob os efeitos do lança-perfume, teria perdido o que não era para perder, pelo menos naquelas circunstâncias. Tenho a impressão que, nas fofocas sobre o fato, as outras moças deixavam escapar, por trás dos comentários maldosos e misteriosos, um pouco de inveja do ocorrido. O tal do lança-perfume (chamávamos cloretil),tinha a marca Rodouro e foi muito utilizada nos carnavais brasileiros nas chamadas batalhas de confetes, até que os foliões descobriram que inalado dava barato. A partir de então, o desodorizador em forma de spray foi proibido nos salões.

Durante longos anos, nosso carnaval de meninos pobres dos paredões, consistia em ir até o centro da cidade para ver o corso automobilístico. Permanecíamos em frente ao Cine Pax, feito bobos, observando os carros que percorriam no seu trajeto, as principais ruas do centro comercial de Mossoró. Os carros, na sua maioria descobertos e enfeitados, passavam e passavam, e os foliões sempre cantando e dançando sobre eles. Na volta para casa tentávamos, e na maioria das vezes conseguíamos, penetrar nos bailes que aconteciam no Clube Ypiranga. Lembro dos planos para desviar a atenção dos leões de chácara que ficavam, às vezes na porta, às vezes ao pé da escada que dava acesso ao salão onde se desenrolava o baile, impedindo a nossa entrada, por menores e por pobres que éramos. Lá dentro, estranhos no ninho, pulávamos o carnaval dos ricos, esperando a qualquer momento o convite para cair fora. Coisa de crianças.

O tempo passou e aí pelos quarenta e tantos anos, fugi com a família, do burburinho sem graça do carnaval, para as saudáveis águas do Hotel Termas. Mas entre uma cerveja e outra, por iniciativa de um grupo de baianos presentes, tive minha última experiência carnavalesca. Começamos a dançar e, como se dizia antigamente, a pular o carnaval. Outros grupos se formaram e de repente estávamos, como sempre, pulando e rodando, dessa vez em torno das piscinas do resort.

Com o passar dos anos e com a descaracterização de tudo, o carnaval perdeu a sua periodicidade e passou a ser promovido também fora da época certa (hoje, até aniversário se faz fora de época). Já sem cunho cultural, transformou-se de vez em atividade meramente comercial, paraíso das drogas e da falta de pudor.

Quando vejo as notícias de que os bancos de sangue, estão sendo abastecidos, os hospitais preparados, a distribuição de camisinhas programada e as polícias engajadas numa verdadeira operação de guerra para enfrentar o carnaval que se aproxima, só me resta torcer pela população e rezar para que durante a festa, chova três dias sem parar.

sábado, 21 de janeiro de 2012

LEMBRANÇAS DE MINHA MÃE



Minha mãe - Iris Ferreira da Silva - foi minha primeira professora. Normal, afinal são as mães que permanecendo mais tempo junto aos filhos acabam por transmitir muito de seus hábitos, costumes e sabedoria. As primeiras tentativas de me desasnar vieram dela. Disseram para ela que o aprendizado seria facilitado se ministrado ali pelas primeiras horas da manhã. Era o ABC. Daquela época, dentre outras coisas, lembro que detestava comer galinha, que um dia me deram umas colheradas de óleo de rícino e que a água do pote era esterilizada com uma pedra aquecida jogada no seu interior. Talvez o método de minha mãe tenha apressado o aprendizado: um dia, sozinho, tive a suprema alegria de notar que conseguira ler. Desde então, apesar de ter recebido educação formal até o doutorado, a sensação de autodidatismo não mais me abandonou.

Gente muito boa, minha mãe. Guardo dela a lembrança de pessoa inteligente e sábia, embora sem educação formal. Dava-me conselhos e eu a consultava. Surpreendeu-me, certa vez (essas lembranças nunca morrem), na mais tenra infância, de brincadeirinhas com uma menina, e na repreensão gestual e sonora, deixou-nos apenas antever, sem repressão nem sustos, que aquilo era assunto de importância, como arquetipicamente já sabíamos.

Minha mãe era negra e a maior parte de minha infância passei entre tias e primos negros. Todos muito pobres. Brancos, só meu pai (que era dos Filgueira Burlamaqui), e a minha avó, mãe dela, Maria Pedro, descendentes dos Ferreira da Costa, de Jaguaruana-CE. Há aqui uma seqüência de casamentos mistos: meu avô negro com minha avó branca, meu pai branco com minha mãe negra, meu casamento com minha esposa parda, com filhos brancos e morenos. Darcy Ribeiro teria abençoado: mestiço é que é bom.

Uma lembrança dolorosa. Certa vez, em casa da minha tia Alcinda, ao anoitecer, ela achou que era hora de retornar, o que significava fim das brincadeiras. Como toda criança estrebuchei, chorei, mas fui levado de volta. No caminho, ao passar por um grupo de amigos um deles perguntou – Ói Marcos, essa é sua mãe? Com raiva como estava e ainda choramingando respondi que não. Recebi de minha mãe o cocorote mais doloroso do mundo. Pela primeira e única vez, recebi dela um castigo físico. Estranhei a violência e também porque ela chorou junto. Só muito depois entendi que a negativa tocara-lhe a alma de negra que tivera um filho branco. Antes tivera outro filho - José Maria - meu irmão negro, que morreu aos primeiros vagidos. O sobrevivente, alourado e de olhos claros, que ela parira, em casa, na Rua Alexandre Baraúnas, como era costume, negara-lhe a maternidade.

Tinha lá suas estranhezas, a minha mãe. Um dia meu pai me pediu para ter cuidado, por aqueles dias, por que a velha Iris havia sonhado com casamento e isso geralmente significava morte na redondeza. Não lembro se dessa vez a premonição foi verdadeira.   

Ela era protestante, embora desrespeitasse algumas das recomendações do cristianismo. Não ligava, por exemplo, para a afirmativa de Jesus de que o que torna impuro é o que sai, e não o que entra pela boca, pois me fez recomendação estrita para nunca comer sangue, em respeito à recomendação veterotestamentária. Daí, sempre sentir-me culpado, mesmo já adulto, ao comer a deliciosa galinha à cabidela feita por dona Maria, lá no Bar do Chico. Evitava quase todo o sangue, mas temia o castigo de engasgar-me com algum pedacinho de osso da galinha.

Pouco ortodoxa também era sua atitude de levar-me, às ocultas, ao fundo do quintal, para fazer orações à lua nova. Não lembro que palavras dizia, mas sei que fazia pedidos, mostrava objetos, minha camisa, a carteira de cédulas do meu pai, etc. Depois pedia segredo sobre o ato, em uma atitude muito parecida a dos marranos de Belmont em Portugal.

Minha prima Carmelita, em resposta a freqüentes solicitações sobre qualquer documento que esclarecesse os seus ancestrais, certa vez mostrou-me uma velha carteirinha da Assembléia de Deus, onde constava que o nome do seu pai era Manuel Pedro Varela, e de seus avós maternos, Antonio Ferreira da Costa e Francisca Raimunda de Jesus. Nos registros paroquiais de Areia Branca encontrei o seu batismo feito no dia 21/01/1921, filha legítima de Manuel Pedro Varella e de Maria Ferreira da Costa. Padrinhos: Manuel Leandro e Mariana Vasconcelos.
Uma única foto dela me restou. A foto do seu título de eleitora, já agora desfigurada, descaracterizada. Gente pobre era assim: foto só para documentos. Ficou a do coração, bem clara e para sempre.