quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

LEITURA LENTA OU RÁPIDA?


O mundo está ficando cada vez menor, e o tempo, cada vez mais curto: este o padrão da época em que vivemos. A idéia é que quem deseja ter sucesso, deve estar integrado e fazer parte desse sistema. Caracteriza bem o período, a denominação de fast, rápido, ao importante momento da alimentação – o fast food, e a chamada Leitura Dinâmica, que promete elevar a capacidade de leitura, das 150 a 250 palavras por minuto do leitor comum, para o patamar de até 3.000 palavras por minuto.

Evidente que há quem pense diferente. Ao fast food contrapõe-se hoje o slow food. É a busca da desaceleração, não só quanto à alimentação, como nos demais aspectos da vida. O canadense Carl Honoré, com o seu livro In Praise of Slowness: How A Worldwide Movement Is Challenging the Cult of Speed, deu o pontapé inicial nesse movimento chamado de Slow Movement. Em português: movimento lento ou quem sabe, devagar. O movimento defende o Slow Travel, o Slow Shopping, o Slow Design, o Slow Reading etc. Este último, em contraponto claro à leitura dinâmica. Pelo menos quanto à leitura pelo prazer de ler.

Na apresentação de um desses livros que ensinam a Leitura Dinâmica, pode-se ler: Até a investigação literária, ou entretenimento puro e simples devem ser feitos de maneira eficiente, rápida, se quisermos ficar em dia com o acervo literário cada dia mais extenso e rico. É bem verdade que em determinado momento os autores do livro admitem que A prática de leitura reflexiva e pausada é fundamental na formação da cultura e da personalidade.Isso em respeito à noção de níveis de leitura. 

Uma coisa é correr o olhar rapidamente em um jornal, em busca das notícias que interessam, ou em um documento legal, em busca de determinados artigos; outra bem diversa é sentir o prazer do texto, a sonoridade das palavras escolhidas, a riqueza vocabular, a linguagem fluida e harmoniosa, a adjetivação original. Aqui, só a leitura lenta. Afinal, o artista da palavra escreve com intenção estética, e espera, pelo meu envolvimento no seu texto, que me torne co-autor. Quantas correções, consultas a dicionários e pesquisas para a composição do texto. Não, a leitura dinâmica, na velocidade de 3.000 palavras por minuto (aproximadamente 7,5 textos como este), não permitirá que me envolva na história, que me apaixone pelos personagens, que atinja a fruição de que fala Barthes. Assim, desligue a TV, o computador, esqueça o celular, busque um lugar confortável, leia calmamente e só assim você poderá entender porque Dom Casmurro é tido como um dos melhores e dos mais refinados romances da literatura mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário