No ano de 1846 foi feito o inventário de Mafalda Gomes de Freitas, esposa do Ten. Cel. Antonio Francisco de Oliveira. Moravam no Apodi e deixaram onze filhos. Um deles, Manoel Antonio de Oliveira, na época do falecimento de sua mãe era estudante do Curso Jurídico de Olinda. Uma filha, Maria Mafalda de Oliveira era casada com o Dr. Luis Gonzaga de Brito Guerra, com descendência estudada por Raimundo Soares de Brito.
Dos 20 inventários que estudei no meu livro Velhos Inventários do Oeste Potiguar, e disponibilizado no meu site, este é o mais rico. O casal possuía ouro, prata, gado e bens de raiz em abundância. Tinham partes de terra e benfeitorias distribuídas nas localidades Sombra Grande, Solidade,Salão, Gado Bravo, Caraúbas, Tabuleiro Redondo, Caratoga, Apanha Peixe, Abreu, Boqueirão e Fazenda Conceição.
Possuiam, ainda, uma loja de tecidos e uma casa de tijolo na Vila de Apodi, na rua do Capitão Fernandes.
O que chama a atenção no inventário é a imensa lista de devedores do casal. O Ten. Cel. Antonio Francisco, riquíssimo, mantinha relações comerciais e financeiras com quase todos os habitantes da Várzea do Apodi e a relação dos devedores é quase um recenseamento das principais cabeças de famílias da região incluindo membros das famílias Fernandes Pimenta (seus aparentados), Fernandes Filgueira, Góis Nogueira, Carneiro, Morais, Rego Leite, Barbosa, Lopes de Oliveira e muitas mais.
O somatório das dívidas ativas (que deviam ao casal) perfazia quase metade do montante total do valor arrolado no inventário. Deviam ao casal nada menos que 234 pessoas: vaqueiros, escravos, padres, alferes e capitães. Toda a região pedia empréstimos ao Ten. Cel.
Como exemplo da extensão geográfica de sua influência financeira, cito Domingos da Costa de Moraes, de São Sebastião; Ermenegildo Zacarias, de Martins; Francisco de Souza Cavalcanti, de Caraúbas; Manoel Joaquim, do Apanha Peixes; João Batista de Morais, do Sabe Muito; Cap. Manoel Martins Casado, de Brejo de Areia e muita gente do Logrador e do Pacó. Uns Alves de Oliveira, que também aparecem na extensa listagem, creio que sejam de Mossoró.
Em alguns casos mais de um membro da mesma família devia ao casal e eram diferenciados pelo grau de parentesco: filho de, afilhado de, mano de, etc. Alguns devedores são caracterizados de forma pitoresca como o velho, o velho João Velho, a velha Tereza do Ladrão e a velha Agostinha.
Com os seus 15.443$800 (Quinze contos,quatrocentos e quarenta e três mil e oitocentos réis), equivalentes hoje a cerca de R$ 864.000 (salvo melhor cálculo), Antonio Francisco funcionava como um verdadeiro banco, financiando o desenvolvimento da região. Um padre precisava de reformar a igreja, um vaqueiro adquirir um sítio, um fazendeiro comprar animais, etc. recorriam então àquele senhor.
Só encontrei, até agora, em período anterior a esse, um paralelo com o Pe. Manuel Luis de França, pernambucano estabelecido em Baturité-CE, cujo inventário foi estudado pelo insigne Vinicius de Barros Leal, historiador e genealogista cearense, com ação semelhante naquela região.
Somente muito tempo depois, em 02 de dezembro de 1918, o Banco do Brasil foi instalado em Mossoró tendo como seu primeiro Diretor-Gerente o Sr. Álvaro Feijó Ribeiro e o Sr. Virgílio Catanhedo Sobrinho como Contador-Guarda-Livros. A partir de então, começa a ação oficial no desenvolvimento regional.
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