Embora existam espécies que se reproduzem assexuadamente (quando só há fêmeas), há vantagens na reprodução sexuada (quando há machos e fêmeas) pela maior variabilidade genética que traz aos descendentes. Essa vantagem foi “percebida” pela evolução e se espalhou. É por isso que a reprodução natural, nos seres humanos é fruto das estratégias de acasalamento de machos e fêmeas, cada um trazendo seu histórico genético para o namoro.
A antiguidade não sabia dessa coisa de ciência; mas não ficava calada, utilizava o mito para explicar essa e outras questões: Deus nos criou homem e mulher, e viu que era bom.
Eis aí, então, a vida expressando-se nos humanos, por duas vias: homem e mulher. Duas visões de mundo determinadas biologicamente - anatomia é destino, diria Freud. Contudo, pela própria caracterização física destes diferentes, vê-se que estão destinados ao encontro. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à mulher, tornando-se os dois uma só carne, dirá o mito. Todo o desenvolvimento e amadurecimento sexual por que passamos, não tem outra razão senão nos preparar para esse momento.
Mas esse encontro entre homem e mulher pode não acontecer, nem mesmo ao nível potencial do desejo. Isso quando um deles, pelas mais variadas razões, não consegue “enxergar” o outro e permanece preso ao seu próprio sexo, tornando anódino, todo aquele esforço evolutivo, toda a energia despendida na formação sexual do indivíduo. Nesse caso, mesmo que o afeto dirigido à outra pessoa, ao nível de percepção sensorial dos envolvidos, seja tido como satisfatório, permanece intragenérico, num relacionamento que por mais que defendido e aceito, não passa de monólogo infrutífero.
A satisfação individual, nesses casos, não necessita de justificação. Cada um é o que é. Não há necessidade de tentar esvaziar, como procuram fazer alguns, o conceito da bissexualidade humana, vinculando-o a uma visão recente, logo, histórica, relativizando o papel dos parceiros, conduzindo a uma discussão infindável que leva à redução de tudo isso à lingüística, como nas afirmativas lacanianas.
Tal tentativa morre aos pés daquela base biológica, produtora de filhos, cujo inicio, na historia da vida, de tão antiga é impossível datar. Assim, em torno dos pólos macho – fêmea, é que se desenvolverão variantes, possibilitadas pela plasticidade mental da espécie, mas sempre tendo aqueles pólos como referencia básica. Seja o que for que o homem faça, ou fantasie, é-lhe tão impossível fugir aos limites de seu sexo biológico, quanto sair de sua pele.
Outros, sentindo o nonsense das razões anteriores, mergulham na inócua e desnecessária tentativa de utilizar os conceitos universais da filosofia chinesa de Yin e Yang, numa sutil justificação desses tipos de relacionamentos, argumentando que, mesmo aí, continua existindo a bipolaridade ativo – passivo, novamente ignorando a inelutável definição biológica, assumindo, dessa forma, a defesa de um arremedo daquela relação arquetípica.
Essas pessoas, fadadas ao solilóquio, por não enxergarem o outro gênero, devem ser respeitadas no seu direito de monologar, embora biologicamente nascidas para o diálogo. Mas que não se formalizem direitos específicos. Ou tão exageradamente abrangentes a ponto de criminalizar qualquer tentativa de criticá-las ou entende-las, mesmo que a nível puramente comportamental ou filosófico. Direitos específicos só devem ser direcionados para aqueles que os merecem, mercê de uma patente deficiência ou enfraquecimento: cegos, aleijados, idosos, etc.
Há de se ter cuidado, na defesa desse direito, para que no exagerado esforço em busca de igualdade, não se invertam os valores, pondo os que estabelecem uma saudável conversação intergenérica, quase como inferiores. Estes, que ainda são maioria, seguem sendo os que em nosso mundo, cumprem a milenar ordem genética e mítica do verdadeiro encontro produtor de vida.
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