De acordo com a psicologia profunda, desenvolvida pelo psiquiatra alemão Carl Jung e relacionada com o fenômeno do inconsciente, a experiência da individualidade, o sentir-se exclusivo e único, é um profundo mistério do ser que não podemos ter esperança de compreender racionalmente. O alvo do desenvolvimento psíquico de todo indivíduo – chamado por Jung de individuação - seria aproximar o mais possível, a percepção dessa individualidade, ao arquétipo eterno do Self, espécie de imago dei – imagem de Deus – que habita nosso psiquismo.
Jung faz uma afirmação cheia de implicações: esse indivíduo arquetípico tem uma existência inconsciente a priori, ou seja, anterior ao desenvolvimento do nosso ego. O inconsciente é, pois, mais antigo e mais original que o ego. Nossa personalidade ímpar, diferenciada, teria assim, uma natureza transpessoal. Essa seria a razão para a idéia antiga de que cada pessoa tem sua própria estrela individual – o seu destino cósmico.
A importância transcendental do nosso Self, esse sentimento de valor inato que não leva em conta proezas e realizações, faz Edwar E. Edinger, em Ego e Arquetipo dizer: ... é um erro identificar nossa individualidade com alguma função, talento ou aspecto de nós mesmos. Trocando em miúdos: a comparação do nosso desempenho, da nossa inteligência ou do nosso conhecimento, com o de outras pessoas, é um tremendo erro de julgamento. Somos obrigados a experimentar o fato de que nossa individualidade e valor pessoal estão alem de realizações particulares. Só assim, diz Edinger, nossa segurança não será ameaçada pelas realizações dos outros. E aqui temos o fecho de nossa reflexão: quando temos consciência da própria individualidade, percebemos que temos, já, tudo de que precisamos.
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