domingo, 14 de agosto de 2011

UMA VISITA À FEIRA DO LIVRO

Ontem fomos à nossa limitada Feira do Livro, que está ocorrendo na Estação das Artes Eliseu Ventania. Meu objetivo é claro e simples: comprar livros. Dispenso sempre a parte discursal, aquela coisa de ouvir escritores ou palestras sobre literatura. Pode ser importante ou interessante mais eu não gosto. E o digo agora com mais liberdade, depois do que falou João Ubaldo Ribeiro sobre o desprazer de conversar sobre literatura: Me entedia, só. Não tenho interesse. Acho chato. É como se você quisesse bater um papo sobre hóquei sobre patins. Eu digo: eu não quero. Mas ele, como grande escritor, nem sempre pode fugir, eu posso. Alem do mais, um desses palestrantes era o escritor Lobão, que desconheço como tal. Não sei se ele cantou alguns de seus sucessos no evento.

Visitei todos os estandes, e nesse vai e vem,folheando quase que cada livro, lembrei do que fazíamos quando crianças com os nossos gibis à porta do Cine Pax, e vi que, ao longo de 50 anos, nada mudei quanto a esse gosto pela leitura. Mudou o nível, mas o prazer pela página escrita é o mesmo.

Situado na Praça Rodolfo Fernandes, no centro de Mossoró, o Cine Pax, onde hoje funciona uma loja da Marisa, era o nosso ponto de encontro nos fins de semana pela manhã. Ficávamos no hall do cinema, com uma pilha de revistas trocando-as. Fantasma, Rock Lane, Superman, Batman, Tarzan, Mandrake, Tom Mix etc. Dávamos voltas e voltas (tal como fiz na Feira).Cada um com uma braçada de revistas, novas e usadas, examinando,comprando, vendendo, mas principalmente trocando.Década de 60 com certeza.

Em casa, após o almoço, o monte de revistas ao lado da rede e a leitura prazerosa de todas aquelas novas histórias.

A influência dos quadrinhos era tremenda. João Vitalino, antigo barbeiro que tinha seu salão à rua Venceslau Braz, chamava-me de Zorro, pois só andava “armado”, revólver de madeira na cartucheira amarrada na perna, pronto para o “duelo”. Certa vez, apareceu a moda do cabelo à escovinha, curto e que ficava em pé.Todos os meninos fizeram o seu corte. Seu João cortou o meu da maneira certa, mas sendo muito fino, deu a impressão de que havia cortado no zero, resultado: o Zorro só saiu de casa após o cabelo crescer. 

Hoje, o hábito continua, ao invés das revistas, aqui estou com um monte de livros, nos dois lados da rede. Da feira de ontem, as obras compradas denotam os interesses de adulto. Examino-as com prazer. Ao longo dos dias serão objeto de minha leitura cuidadosa, por enquanto uma análise superficial. Dentre eles uma dissertação de mestrado sobre Paulo Francis, que admiro, recuperado das esquerdas pela erudição; os conselhos de Sêneca, nos seus diálogos com Sereno, em busca da tranquilidade da alma; Belfagor, o Arquidiabo, de Maquiavel; Ciências da Mente e do Cérebro no Século XXI; um Dicionário Politicamente Incorreto. Interesses de adulto, sim, mas a criança que não morre em mim, ainda tem uma saudade danada de Rock Lane e de Durango Kid, e daquele antigo revolver de brinquedo.

Um comentário:

  1. "A criança que não morre em mim" Ouvi dizer que isso sim é Felicidade.

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