Os primeiros elementos da família Rocha, que documentalmente se relacionam com as terras de Santa Luzia, foram Jerônimo e Isabel da Rocha, que juntamente com mais seis suplicantes, solicitam sesmaria pedindo nada menos que cinco léguas de comprido por outras tantas de largo, para cada um deles, ao longo do rio Upanema, valendo dizer rio Mossoró. A petição foi deferida com a redução para três léguas por uma, para cada um, mas por desaproveitamento, caiu em comisso.
Luis da Câmara Cascudo estudou a seqüência das possessões registrando como mais antigo dono da Fazenda de Santa Luzia, o Capitão Baltazar da Rocha Bezerra, em 1728. Filho de outro de mesmo nome e de Maria Barbalho Bezerra, ambos paraibanos, descenderiam de outro Baltazar da Rocha Bezerra, que Borges da Fonseca diz que casou na Paraíba com gente da família dos Barbalhos, Morgados da Paraíba.
Decifrando, porém, velhos documentos referentes ao Terço dos Paulistas, que deram combates aos índios na chamada Guerra dos Bárbaros, o historiador Olavo de Medeiros Filho fez recuar a posse, ao sogro de Baltazar, o Capitão Teodósio da Rocha, que em 1712, recebia ordem do Sargento-Mor José de Morais Navarro, para que, juntamente com o soldado Bonifácio da Rocha, seu filho (conforme João Felipe Trindade)... marchem logo dentro de cinco dias, para sua fazenda do Monxoró...
O próximo a deter a posse da fazenda, ainda segundo Câmara Cascudo, foi Teodorico da Rocha Bezerra, antes de 1739. A posse teria vindo a este por compra ou seria sucessão? Sabe-se que este último foi pai de pelo menos dois filhos: Antonio Vaz Gondim e Damião da Rocha, que, segundo Francisco Fausto, teriam efetivamente habitado na região, ocupando terras ao norte da fazenda, indo até o Góis.
Mais informações se colhem sobre essas terras e personagens, na carta de sesmaria concedida a Baltazar Gonçalves dos Reis, em 1763. Dizia o suplicante:
que elle é senhor e possuidor de parte de um sítio de terra chamado a lagoa do Goes, na ribeira do Mossoró, distrito dessa Capitania, com três léguas de comprido e uma de largo, que ouve por herança de seu tio, Jeronimo da Silva e este o ouve por dote que lhe fez seu sogro Teodósio da Rocha ou seu tio Antonio Vaz Gondim, o qual havia tirado por sesmaria pelo governo desta Capitania.
A confirmar essa posse, temos o documento divulgado por Vingt-un Rosado, referente ao pedido de terras feito por José de Oliveira Leite, em 1754, na mesma quadra da Fazenda de Santa Luzia. Sobre essa solicitação, diz o Escrivão da Fazenda, que, revendo o Livro Sétimo de Registro de Sesmaria, encontrou o seguinte:
...consta haver dado de sesmaria a Antonio Vaz Gondim e seu irmão, Damião da Rocha, cinco léguas de comprido e uma de largo no rio Mossoró da parte do Norte, pegando das testadas da terra de seu pai, Capitão Teodorico da Rocha, para baixo que é o sitio chamado Santa Luzia...
Como José de Oliveira Leite não especificou o exato local da terra que solicitava, houve a preocupação por parte daquele Escrivão, de que essas viessem a coincidir com as posses já firmadas anteriormente.
Parece haver parentesco entre José de Oliveira Leite e Teodósio da Rocha, e talvez tenha sido essa a motivação para sua fixação em Mossoró, onde foi a primeira autoridade da Ribeira, por carta patente passada pelo Capitão-Mor da Capitania do Rio Grande do Norte, Pedro de Albuquerque, em 1755. Interessa, a respeito desse parentesco, o que se encontra na carta de sesmaria concedida a Antonio Pereira de Albuquerque, Teresa de Oliveira e Manuel Roriz, datada de 1709. As terras pretendidas eram as mesmas situadas... na ribeira do Mossoró, da parte do Norte do Rio dela... e foi preciso dar vistas aos autos da concessão anterior a Teodósio da Rocha:
...vistos os autos como por elles se mostra ser concedido Teodozio da Rocha e sua filha Teodosia e ao Capitão João Leite de Oliveira (...) toda a terra que se achar da Costa do mar pela Ribra. assima do Mossoro até donde o gentio chama de sete estrelo das partes do Norte e se mostrar que os justificantes Theodozio da Rocha e sua filha Teodosia de Oliveira Leite...
Esclarece o referido documento, que a data e sesmaria lhes pertenciam por devolutas, e surge aí a figura de quem fora o anterior dono da terra, ou co-herdeiro dela:
...e como sendo outro citado Antonio da Rocha Pita para alegar e mostrar o dicto que tivesse contra esta data e sesmaria e não fizesse, o hei por excluso da terra...
Eis então Teodósio e João Leite de Oliveira com posse anterior a 1709. O prof. João Felipe da Trindade cita o Capitão João Leite de Oliveira, de idade de trinta e cinco anos em 1699, como filho do Capitão Mor Antonio Vaz Gondim. João, por sua vez, foi pai, dentre outros de Clara, batizada em 12 de Abril de 1710, tendo como padrinhos, José Ferreira e Felizarda Filgueira (essa filha de Teodósia da Rocha e neta de Teodósio da Rocha)
A partir de Damião e Antonio Vaz Gondim, teria havido solução de continuidade, com posse da terra, ao norte de Mossoró, por elementos de outras famílias? Acreditamos que não. Na primeira metade do Sec. XVIII coincidência ou não, ainda é um Rocha, Alexandre de Souza Rocha, que detém a posse da Ilha de Dentro e também de partes de terras no Góis. Ele e sua esposa, Leocádia Barbosa Vasconcelos, ambos naturais de Goiana, Pernambuco, estabeleceram-se por pouco tempo no Seridó, e definitivamente, nos citados lugares da Ribeira. Diz Francisco Fausto: Do Seridó mudou-se o casal para o sitio Ilha de Dentro na Ribeira do Mossoró onde fixou residência...
Supomos, não gratuitamente, que Alexandre pertença a essa mesma grei dos Rochas, que por todos esses séculos tem mantido a posse daquelas partes de terra. Igualmente da gens, seria Jerônimo da Rocha Tevez, natural da Ilha Terceira, que faleceu quando se dirigia, a cavalo, do Ceará para Mossoró, cuja filha, Quitéria Francisca de Oliveira, viria a se casar, em 1774, com José de Góis Nogueira, Comandante da Ribeira do Mossoró, filho de Manoel Nogueira de Lucena e de Firmiana Rosa dos Prazeres. Para Francisco Augusto, genealogista cearense, Jerônimo teria sido casado com Ana Maria de Albuquerque.
Por compra ou por herança, serão, na continuação, vários os possuidores de partes de terras nessa região, sendo digno de nota, a declaração que faz Manoel Francisco Rebouças, registrando, ainda em 1855, a presença de um Rocha Bezerra com posse na área.
Manoel Francisco Rebouças, natural e morador na freguesia de Nossa Senhora do Rosário da cidade do Aracaty,casado, declara que possui duas sortes de terras no sitio Tibau da freguesia da Senhora Santa Luzia, sendo oitenta e três braças e meia por compra a Bernardino da Rocha Bezerra e cento e oito e meia houve-as por legitima de minha falecida mãe, Tereza Rodrigues de Jesus tendo as mesmas terras uma légua de fundo – Mossoró,dezoito de dezembro de mil oitocentos e cinqüenta e cinco (1855)...
Alexandre e Leocádia deixaram filhos, dos quais, até agora, apenas três podemos perfilhar: Alexandre de Souza Rocha, natural do Seridó, casou em 1774 com Josefa Maria Calada, filha dos mesmos Manoel Nogueira de Lucena e Firmiana Rosa dos Prazeres; Matias Aires Delgado, natural de Russas/CE, casou com Francisca Inácia de Oliveira, filha de Francisco Falcão de Souza e de Helena Maria de Oliveira, e Eufrásio Alves de Oliveira, natural de Goiana, que Francisco Fausto assegura que morava no Upanema, na segunda metade do Sec. XVIII, casado com Quitéria de Oliveira e foram o tronco dos Alves de Oliveira e Alves de Souza, da cidade de Mossoró.
Olá Marcos,
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
Suspeito que minha família está imbricada nesse artigo. José Martins de Oliveira (filho de José Martins de Oliveira e neto de João Leite de Oliveira) casou-se com Ana Maria de Medeiros (de Santa Luzia/PB).
Um casamento estratégico?
Obrigada e, se puder, peço seu contato - skaraujo@hotmail.com