quinta-feira, 12 de maio de 2011

NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM


Esta semana terminei a releitura prazerosa de Diário do Entardecer, de Josué Montello.Às tantas anotações que já fizera, outras novas acrescentei.

Percorri com ele, em leituras matinais e ao ritmo diário da obra, 886 páginas de experiências administrativas, literárias e pessoais. Viajei com ele a Lisboa, a Paris, a Londres, ao seu universo literário (o índice remissivo dá conta de centenas de escritores citados no livro). Através de sua narrativa segura e, em certos instantes romanesca, angustiei-me com a derrota da candidatura de Juscelino para a Academia Brasileira de Letras, fato que me enojou, tanto pela intromissão dos militares (leia-se Golbery) evitando o retorno do ex-presidente à vida pública, quanto pelo comportamento dos acadêmicos, que mudavam seus votos à medida que se repetiam os escrutínios. 

Admiraram-me as idiossincrasias de escritores, a pouca modéstia de Guimarães Rosa (Vocês, aqui no Brasil,em matéria de literatura, fazem samba, marcha, samba-canção. Eu faço ópera),  e seu nervosismo antes do dia de sua posse na ABL, sua morte posterior, as bobas razões dos desencontros de Silvio Romero (crítico) e Machado de Assis, que suscitaram críticas tão acerbas ao grande escritor, fundador da Academia.

Acompanhei suas leituras diárias de trechos escolhidos ao acaso, de autores portugueses e franceses, principalmente. Aqui e acolá, análise literária em pequenas gotas. 

A referência a bibliotecas, como a de Péricles de Morais com 20 mil volumes, a maioria de autores franceses, sua própria com 30 mil, da qual não podia se afastar, onde habitava e onde se refugiava nas suas frequentes noites insones. Suas freqüentes visitas a livrarias e sebos. A mania de encadernar todos os volumes.

De 1967 a 1977, período a que se refere o Diário, escreveu Cais da Sagração e Os Tambores de São Luis. Lê-se ali, o surgimento dos seus romances, a motivação original, a elaboração dos personagens, do enredo, o nervosismo e expectativa do dia do lançamento da obra. 

O Diário do Entardecer é de fato obra de um homem de letras. Um verdadeiro curso de literatura universal. Já com saudade me despeço momentaneamente de Josué, para me acercar das anotações de Jorge Amado – Navegação de Cabotagem, que nos convida dizendo: Trata-se, em verdade, da liquidação a preço reduzido do saldo de miudezas de uma vida bem vivida. Vamos à mais essa viagem através de 544 páginas, nessas minhas deliciosas horas feriadas.

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