segunda-feira, 29 de novembro de 2010

DIÁRIO DO ENTARDECER


Releio, calmamente, as 865 páginas do “Diário do Entardecer”, de Josué Montello. O livro foi presente do Prof. Vingt-un Rosado em 30 de outubro de 1992. O escritor é acusado de ter escrito em excesso. Contudo, diz a crítica que com mais de cem obras publicadas conseguiu, como poucos, anexar uma extrema qualidade à alta produtividade que lhe é característica. Sobre isso ele escreveu: “ Há pouco mais de um ano, olhando a exposição de minhas obras em Paris, um jornalista me perguntou por que eu havia escrito tanto, a ponto de encher a parede do salão com a capa de todas elas. Respondi, fiel à minha simplicidade: Para ver se conseguia escrever melhor”.
São análises, lembranças, comentários, algumas anedotas acadêmicas do período que vai de 1967 a 1977. Por aí perpassam fatos envolvendo Machado de Assis, João Guimarães Rosa e outros escritores e políticos. Uma delícia.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

AVATAR E A SENSAÇÃO DE DEJÀ VU


Assistindo ao filme AVATAR, tive a nítida sensação de Dejà vu. Não por ter conhecido antes os Timespirits da Marvel Comics, que as más línguas acusam de terem sido plagiados por Cameron, na caracterização dos humanóides Na’vi. É que a temática utilizada é de caráter universal: nativos vivem onde existe importante fonte de recursos que interessa a um povo estrangeiro, colonizador e agressivo. O Diretor canadense tinha a seu dispor um vasto leque de exemplos históricos para o seu roteiro.
De minha parte, a sensação veio por já ter lido a respeito da famigerada Guerra dos Bárbaros, que se desenvolveu no Nordeste entre 1683 e 1713, dando continuidade ao extermínio dos nossos índios, iniciado por Duarte Coelho em Pernambuco. Câmara Cascudo negou-se a historiar essa guerra covarde e sanguinária. Li sobre ela em alguns dos Documentos Históricos, publicados por Rodolfo Garcia, e em Affonso E. Taunay no seu livro A GUERRA DOS BÁRBAROS, em edição publicada pela nossa Fundação Vingt-un Rosado.
No filme a corporativa humana RDA e seus objetivos, assemelham-se a iniciativa portuguesa de colonizar o Nordeste. O Rei português ordena que fizesse a maior guerra possível ao gentio bárbaro (...)ou para afastar das nossas terras ou para os extinguir...Essa luta desigual pelo domínio da terra, se deu em todo o pais, mas em nenhuma parte foi tão cruel como na nossa região. Não admira que tivesse resposta da parte dos Cariris - os nossos Na’vi (também de arco e flecha). Ousaria dizer que o famoso massacre de Cunhaú, visto assim à distância das conseqüências religiosas, foi bem uma dessas reações, mas não iria a ponto de ver no holandês  Jaco Rabi, o Jake Sully,colonizador que no final do filme fica do lado dos Na’vi, embora os batavos fossem considerados libertadores pelos índios.Tal como no filme, as tribos todas se reuniram em defesa de sua terra, no que se chamou de Confederação dos Carirís.
Escolho Antonio de Oliveira Ledo como o maior dos sertanistas do Nordeste e assim, equivale, na nossa comparação, ao Coronel Miles Quaritch, o vilão de Avatar. Poderia ser outro, entre vários dos nossos ancestrais, que ao longo de séculos dizimaram os nossos indígenas. Mas a comparação termina aqui, pois no cinema o Diretor pode fantasiar atribuindo a vitória à parte mais fraca - os Na’vi, enquanto que no mundo real dos séculos XVII e XVIII, com a ajuda dos bandeirantes paulistas, ganhou a RDA, ganharam os colonizadores.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO


Lançado no Brasil em abril desse ano, mais um livro do escritor Umberto Eco, professor aposentado de Semiótica da Faculdade de Bolonha, dessa vez em parceria com o dramaturgo Jean-Claude Carrière. Dois bibliófilos.Trata-se de “NÃO CONTEM COM O FIM DO LIVRO”. O livro do título é o livro tradicional, no formato de papel, em contraste com o e-book – o livro eletrônico. Eco diz que o livro é como a colher, o machado, a roda ou a tesoura, que “uma vez inventados, não podem ser aprimorados”. Não há como discordar dos autores quanto a essa perenidade do livro como suporte da leitura, como condutor de informação, até mesmo pela dificuldade de utilização da nova forma eletrônica, para determinados tipos de leitura.Como  exemplo dessa dificuldade, diz Eco: “Passe duas horas lendo um romance em seu computador, e seus olhos viram bolas de tênis”.  Acontece, porém, como bem sabe o grande ensaísta italiano, os livros não são feitos apenas para suportar ficção. Pense-se, na facilidade de pesquisa de palavras e temas em um livro de 700 páginas formatado em PDF e se verá o benefício do meio eletrônico. Um dia gastei todos os meus trocados para comprar os vinte e tantos volumes da Enciclopédia Britânica, que foram rapidamente encostados a um canto, substituídos pela Enciclopédia Compton  e logo depois pela Grolier, ambas em meio eletrônico, cada uma em um único CD Rom e baratíssimas, facilmente utilizáveis no computador. É verdade que o livro no formato tradicional não desaparecerá, mas que seja bem-vindo o livro digital.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

DAS APRESENTAÇÕES


No dia 18, as 19:hs, na livraria Siciliano do West Shopping Center de Mossoró,foi feito o lançamento do livro de Ana Luiza Burlamaqui da Penha. A prima deu-me a honra de prefaciar sua obra premiada. “Das Apresentações” recebeu o prêmio de poesia “Othoniel Menezes”,do ano de 2008. Duas observações: primeiro a qualidade da sua poesia, depois a reunião de membros da família Burlamaqui de Mossoró e Natal que possivelmente não mais se realizará.Narciso Souto,Fernando Rosado,Ana Maria de Souza Rosado, Ana Luiza (a autora), Penélope Burlamaqui e Marcos Filgueira, todos descendentes de Tibério Burlamaqui, poeta piauiense cujos ascendentes italianos podem ser vistos aqui. Da página 83 retiro um exemplo de sua arte:

Poucas conversas
preliminares
os abraços
murmúrios
sussurros
gemidos
O suor medrando
pelos poros...
De novo só o silêncio
entrecortado por um Vinícius
no escuro da vida
No quarto
de branco só o lençol
e a luz do corredor iluminando
a ceremônia do adeus.

LADRI DI BICICLETTE

Há duas semanas atrás assistimos,eu e minha filha Tétis, a essa obra prima de Vittorio de Sica, filme do nascente Neo-Realismo Italiano, produzido em 1948.Os atores foram recrutados do proprio povo, são amadores.Drama pungente do pós-guerra na Itália. Um pai e seu filho em uma busca frenética pela bicicleta que lhe havia sido roubada e da qual dependia seu emprego.Um retrato social doloroso, artisticamente bem apresentado.

DESISTÊNCIA


Encontro no West Shopping Mossoró com o escritor Rubens Coelho e sua esposa. Fala-me de seus desencontros com a AMOL- Academia Mossoroense de Letras.Segundo ele, fora, em épocas diferentes, convidado e substituído três vezes como candidato a uma vaga na Academia, razão pela qual abria mão definitivamente da imortalidade. É aquele intelectual, um dos mais atuantes da nossa cidade. A Academia estaria enriquecida com sua presença. Sua carta sobre o fato, que recebi por e-mail, teve repercussão na imprensa.

domingo, 21 de novembro de 2010

APOSENTADORIA


Alguns recém formados do Curso de Agronomia da UFERSA me procuraram solicitando cartas de recomendação para o mestrado. Aposentei-me no dia 03 de setembro, acredito, na hora certa. Durante a vida acadêmica minha maior preocupação foi sempre a sala de aula, daí a ligação com os alunos. Ademais, a velha ESAM, só muito recentemente, às vésperas de se transformar em Universidade, é que produziu alguma pesquisa. Extensão, menos ainda. A partir de 1995 até ano de 2009 foram 22 alunos orientados por mim nos seus trabalhos monográficos de final de curso.  A aposentadoria requer algumas adaptações e ajustes. No meu caso, sem dúvida o espaço psicológico deixado pelos horários das aulas é o principal problema. Passados já mais de dois meses, todas as noites ainda sonho na sala de aula. A passagem como vice-reitor, embora honrosa e exercida com o melhor de mim, não parece ter deixado rastros no inconsciente.

NOTAS DO "COMÉRCIO DE MOSSORÓ"


Em 14 de outubro de 2010, comecei a digitar para o meu site, informações retiradas do jornal “Comercio de Mossoró” fundado em 1904 por Bento Praxedes Fernandes Pimenta e que circulou até o ano de 1917. Por varias ocasiões tive a necessidade de procurar informações nos velhos jornais mossoroenses.Tal aconteceu, por exemplo quando escrevi “RIMANDO: A poesia social de Tibério Burlamaqui”.Fiz muitas anotações, principalmente a respeito das notícias sobre falecimentos e casamentos, dentre outras, com a idéia de algum dia disponibilizar, à comunidade, aquelas informações, o que farei em breve.  

NOITE DA CULTURA


Na Loja Maçônica Jerônimo Rosado, no dia 25 de 09 deste ano de 2010, mais uma Noite da Cultura e então o lançamento do livro “A PALAVRA ESTÁ NO ORIENTE”. Tive a idéia de fazer este trabalho com o objetivo de dar mais uma contribuição para a identidade dessa minha querida Loja Mãe nos seus 33 anos.Nas suas 66 páginas procurei reunir, de forma sintética,informações sobre os ex-veneráveis, incluindo o atual,suas diretorias e seus discursos, de posse ou de entrega do cargo.

sábado, 20 de novembro de 2010

UM QUASE DIÁRIO

Pretendo, a partir do meu lugar e em minhas horas feriadas,compartilhar os assuntos de meu interesse: fatos do cotidiano,cinema, livros e seus autores, pensamentos.Na abertura do seu "Diário do Entardecer", com data de 22 de agosto de 1967, Josué Montello registrou sua labuta diária, que agora me inspira:

A cada novo dia, acomodo-me nesta cadeira, e a página em branco me desafia, para que eu lhe diga o que sinto, o que vejo, o que devo escrever. Curvo a cabeça sobre o papel; seguro a pena, e a pena vem vindo pela folha compassiva, deixando ali minhas emoções.