segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM DIA FUI ELVIS PRESLEY


Ele se chamava, na verdade, Elvis Aaron Presley, era irmão gêmeo univitelino de Jessie Garon, que não sobreviveu ao parto. Consta que possuía origens judaicas, mas também descenderia de Cherokees e de alemães (o Presley do seu nome). Fez sucesso mundial a partir de 1956 com músicas como Heartbreak Hotel, Don't Be Cruel, Hound Dog, e centenas de outras que venderam cerca de 350 milhões de cópias dando-lhe o título de King of Rock and Roll

Havia também seus filmes que não se podia perder: O Seresteiro de Acapulco, Louras, Ruivas e Morenas, Feitiço Havaiano, Ama-me com ternura etc. Em Viva Las Vegas a apaixonante Ann-Margret, com quem contracenou, arrebatou nossos corações. 

Todos nós adolescentes queríamos ser Elvis Presley. As músicas, as garotas que conquistava nos filmes faziam voar nossa imaginação. Mas o máximo que podíamos fazer era cantarolar em mal inglês, Love me tender, It’s Now ou Never ou imitar toscamente o penteado do Rei do Rock.

Entre nós o fã mais exaltado se chamava Ernani Gonçalves, que morava ali entre as Barrocas e o São José. Ernani era mais velho e mais letrado que o resto do pessoal, acredito que de origens jaguaribanas.Havia estudado latim e um pouco de inglês e isso dava um poder danado sobre os demais.  Em sua casa havia posters de artistas famosos como do próprio Elvis, de Jayne Mansfield, de Sofia Loren (lembro por causa da fartura) e outras e outros, que ele e suas irmãs obtinham não sei onde. Ernani um dia se mandou para o sul maravilha e nunca mais voltou. Soube tempos atrás que falecera.
  
Para imitar o penteado do Rei, tínhamos que fazer duas coisas: manter o cabelo da parte lateral da cabeça fixado para trás e brilhoso,com costeleta, e caprichar no topete (chamávamos de trunfa). Para isso passávamos, sabonete úmido que ao endurecer mantinha o cabelo no lugar. Por cima do grude, passava-se um pouco de brilhantina Glostora ou Golgate.  Certa vez a chuva desmanchou toda a montagem, derretendo o meu penteado elvispresliano, tornando-o espumoso para gozação geral e minha angustia particular.

Um dia, um nosso amigo, José Augusto Apolinário, apareceu com um tipo diferente de  brilhantina,era vaselina, que ele disponibilizava para aquela vasta legião de Elvis Presleys dos Paredões. A substância era obtida no O Vagalume situado na zona do baixo meretrício da cidade denominado de Alto do Louvor, tradução popular para Art nouveau, nome de uma antiga casa de prostituição que existira por lá, e que emprestou o nome a toda aquela região. O pai de Zé Augusto, José Apolinário Filho (Zequinha Apolinário), era o proprietário do O Vagalume, o que facilitava o comércio da vaselina. O uso que se fazia por lá não sei, só sei que no nosso cabelo dava um efeito excelente, prescindindo do sabonete.

Meses atrás reencontrei José Augusto, hoje competente secretário da Loja Maçônica João da Escócia, e relembrando esses instantes de nossa adolescência, prometi que escreveria algo sobre aqueles momentos. Afirmou-me ele que o antigo, O Vagalume, ainda existe e na pose da mesma mulher que juntamente com seu pai administrava o local no passado, ali nas proximidades do que chamávamos de Rasga – o baixo meretrício do baixo meretrício, onde nunca ousei entrar. Vizinho havia o desaparecido Bar Jaguaretê, onde pela primeira vez experimentei uma chamada de cana, para nunca mais. Lá não era meu lugar, ninguém sabia de Elvis Presley.

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