Ele se chamava,
na verdade, Elvis Aaron Presley, era irmão
gêmeo univitelino de Jessie Garon, que não sobreviveu ao parto. Consta que possuía origens
judaicas, mas também descenderia de Cherokees e de alemães (o Presley do seu nome). Fez
sucesso mundial a partir de 1956 com músicas como Heartbreak Hotel, Don't Be Cruel, Hound Dog, e centenas de outras que
venderam cerca de 350 milhões de cópias dando-lhe o título de King of Rock and Roll.
Havia também seus filmes que não se podia perder: O Seresteiro
de Acapulco, Louras, Ruivas e Morenas, Feitiço Havaiano, Ama-me com ternura
etc. Em Viva Las Vegas a apaixonante Ann-Margret, com quem
contracenou, arrebatou nossos corações.
Todos nós
adolescentes queríamos ser Elvis Presley. As músicas, as garotas que conquistava
nos filmes faziam voar nossa imaginação. Mas o máximo que podíamos fazer era cantarolar
em mal inglês, Love me tender, It’s Now ou Never ou imitar toscamente o
penteado do Rei do Rock.
Entre nós o fã mais
exaltado se chamava Ernani Gonçalves, que morava ali entre as Barrocas e o São
José. Ernani era mais velho e mais letrado que o resto do pessoal, acredito que
de origens jaguaribanas.Havia estudado latim e um pouco de inglês e isso dava um
poder danado sobre os demais. Em sua
casa havia posters de artistas famosos
como do próprio Elvis, de Jayne Mansfield, de Sofia Loren (lembro por causa da
fartura) e outras e outros, que ele e suas irmãs obtinham não sei onde. Ernani
um dia se mandou para o sul maravilha e nunca mais voltou. Soube tempos atrás que
falecera.
Para imitar o
penteado do Rei, tínhamos que fazer duas coisas: manter o cabelo da parte
lateral da cabeça fixado para trás e brilhoso,com costeleta, e caprichar no topete
(chamávamos de trunfa). Para isso passávamos, sabonete úmido que ao endurecer
mantinha o cabelo no lugar. Por cima do grude, passava-se um pouco de
brilhantina Glostora ou Golgate. Certa
vez a chuva desmanchou toda a montagem, derretendo o meu penteado
elvispresliano, tornando-o espumoso para gozação geral e minha angustia
particular.
Um dia, um nosso
amigo, José Augusto Apolinário, apareceu com um tipo diferente de brilhantina,era vaselina, que ele
disponibilizava para aquela vasta legião de Elvis Presleys dos Paredões. A
substância era obtida no O Vagalume situado
na zona do baixo meretrício da cidade
denominado de Alto do Louvor, tradução popular para Art nouveau, nome de uma antiga casa de prostituição que existira por
lá, e que emprestou o nome a toda aquela região. O pai de Zé Augusto, José
Apolinário Filho (Zequinha Apolinário), era o proprietário do O Vagalume,
o que facilitava o comércio da vaselina. O uso que se fazia por lá não sei, só
sei que no nosso cabelo dava um efeito excelente, prescindindo do sabonete.
Meses atrás reencontrei
José Augusto, hoje competente secretário da Loja Maçônica João da Escócia, e
relembrando esses instantes de nossa adolescência, prometi que escreveria algo
sobre aqueles momentos. Afirmou-me ele que o antigo, O Vagalume, ainda existe e na pose da mesma mulher que juntamente com
seu pai administrava o local no passado, ali nas proximidades do que chamávamos
de Rasga – o baixo meretrício do
baixo meretrício, onde nunca ousei entrar. Vizinho havia o desaparecido Bar Jaguaretê, onde pela primeira vez experimentei
uma chamada de cana, para nunca mais.
Lá não era meu lugar, ninguém sabia de Elvis Presley.
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