quinta-feira, 17 de março de 2011

TSUNAMI NO NORDESTE


O filme Síndrome da China, de 1979, trata da cobertura jornalística do problema ocorrido em uma usina nuclear na Califórnia. Tem esse título pela seguinte razão: dizia-se, erroneamente, que se o reator da usina derretesse, faria um buraco que atingiria o outro lado do mundo – a China. Aqui pelo Nordeste, quando criança, dizíamos quase a mesma coisa: se furássemos um poço na superfície terrestre, até atingir o outro lado, atingiríamos o Japão. 

A velocidade de circulação da informação tornou o mundo pequeno. Aquele contato com o outro lado do mundo, hoje é feito com uma rapidez espantosa através dos mais variados meios de comunicação, e de repente assistimos, da nossa poltrona, toda a destruição e dor da nação amiga, inclusive o perigo da fusão do núcleo das usinas nucleares, o que alguns estão chamando de Síndrome do Japão, em contraponto ao título do filme citado. Como sempre acontece, ao saber da desgraça dos outros, começamos a pensar na possibilidade de que também nos atinja. 

Sábado passado, na Livraria Independência, um dos vendedores – Silvio – me perguntou:
 – Professor, o que você sabe a respeito do tsunami que ocorreu no Japão?
– Sei apenas o que foi noticiado, respondi. Nenhum conhecimento aprofundado sobre o assunto.
– É porque eu queria saber quantos km, terra adentro, aquele tsunami teria alcançado. Informei que não sabia e indaguei por que ele estava precisando dessa informação.
– Estou discutindo com um colega que diz que se Tibau fosse atingido por um tsunami, Mossoró também seria atingida, que você acha?

Naquele momento, embora ríssemos da preocupação do citado colega, lembrei que tempos atrás, nas altas marés, o mar adentrava o Rio Mossoró, atingindo praticamente o centro da cidade. A área onde hoje está situado o mercado da Cobal era conhecida como “Salgado”. Lá havia um pequeno campo de futebol, onde só nasciam plantas halofitas como pirrixiu e bredo, As barragens construídas ao longo do Mossoró, além de represarem a água do período chuvoso, passaram a impedir essa inundação salgada. Mas toda essa área de cerca de 42 km, entre o litoral e Mossoró, é muito plana, com uma altitude média de apenas 5 m, e por essa condição de ser facilmente invadida pela água das marés e do rio quando cheio, é que o estuário é chamado de afogado. No caso de tsunami, seria tomada pela água do mar sem dificuldade. Nossa tranqüilidade estaria na raridade do fenômeno no Atlântico.

Ao chegar em casa, alem de folhear rapidamente os livros que havia comprado no sebo (um livro de Clarisse Lispector e outro de Lygia Fagundes Telles), lembrei de verificar, com mais vagar a possibilidade de um tsunami no Nordeste. Eu já sabia que o asteróide que causou a extinção dos Dinos, há 65 milhões de anos, havia deixado marcas nas costas pernambucanas, através de um tsunami com ondas de 20 m de alturas. Mas isso, quando não havia gente por aqui para observar e morrer. E qual não foi minha surpresa, ao me deparar com informações atuais sobre o que se esta chamando de mega-tsunami, que poderá ocorrer a partir da erupção do vulcão Cumbre vieja, localizado na ilha vulcânica de La Palma, no arquipélago das Canárias.  O The Guardian noticiou, a BBC apresentou documentário e de repente todo o mundo acordou para essa possibilidade.

O cientista americano Steven Ward, da Universidade da Califórnia diz que o vulcão possui um ciclo de atividade de 250 anos e que está prestes a acordar de novo. O pior, desta vez é que ele deverá jogar ao mar, metade da montanha que o forma, uma massa com cerca de  1.5 x 1015 kg, gerando imediatamente ondas com a magnitude de 600 metros de altura. 

Se tudo ocorrer como o diabo quer e as simulações estiverem corretas, as ondas gigantes, navegando à cerca de 1000 km/hora, chegarão à costa africana em uma hora, ao Sudeste da Inglaterra em cerca de 3 horas, e à costa leste da América do Norte e ao Nordeste do Brasil, em mais ou menos 6 horas. Claro que a energia daquela onda original já estaria bastante diminuída, mas com possibilidades de produzir ainda ondas muito fortes de 4 a 8 metros de altura. 

O Jornal do Commercio de Pernambuco entrevistou o prof. João Adauto de Souza Neto, coordenador do curso de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que está ciente dessa possibilidade. Diz o cientista que antes de alcançar Fernando de Noronha, a onda gigante atingiria os Estados do Ceará, Piauí, Maranhão e litoral norte do Rio Grande do Norte, o que nos coloca dentro da área de perigo.

A coisa é tão séria que na América do Norte já há estudos e preparativos para o caso do desastre vir realmente a acontecer. Cidades como Boston, Nova York, Washington D.C. e Miami, seriam severamente atingidas. Não são apressadas essas providencias, considerando o caso do Japão, que já esperava um grande terremoto há bastante tempo, mas que teve prejuízos monumentais. Para se ter uma idéia, a previsão feita em 2002, era de que quando ocorresse, cerca de 6.000 pessoas sucumbiriam quase que imediatamente. E isso está ocorrendo. No caso do Cumbre vieja, a questão também não é se, mas quando ocorrerá.

Calma, porém! Como sempre acontece, há quem duvide da magnitude do deslizamento de parte do Cumbre vieja para o mar, que gerará a onda. Tudo isso não passaria, ainda, de remota possibilidade, embora cientificamente baseada. Outros cientistas acham que o vulcão não explodiria em uma única rocha e que a onda criada seria muito menor. Mas como faz tempo que a gente escuta essa conversa de que o sertão vai virar mar, e com nosso velho hábito de só fechar a porta depois de roubado, é melhor ir pondo, calmamente, as barbas de molho. Eu, por exemplo, desejava muito mudar-me para Tibau, mas por enquanto vou ficando por aqui no Alto de São Manoel, bem no alto, longe das águas e mais perto de Deus a quem peço bênçãos para o sofrido povo japonês.

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