quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PELOS CAMINHOS DO MISTÉRIO: DE POE A DAN BROWN

Tenho oscilado, nas minhas leituras atuais, entre os refinados Borges e Eco, e o livre, direto e obsceno Bukowski. Quando me encho da erudição rebuscada, passo para a liberalidade total do velho Buk, the old dirt man. Hoje foi dia de Borges. Em Cinco Visões Pessoais, o grande escritor argentino se detém a analisar o conto policial e o criador do gênero, Edgar Allan Poe. Aproveita Borges para questionar a existência dos gêneros literários e para reiterar a idéia de que a obra estética requer a integração leitor/texto, para só então existir. Nesse caso, minha participação no seu texto, foi enxergar os trechos referentes aos primeiros detetives dos contos policiais como Charles Auguste Dupin, do conto Os Crimes da Rua Morgue.

Fui leitor cativo de romances e contos policiais ou rocambolescos, durante a adolescência. Na Biblioteca Municipal de Mossoró encontrei As Aventuras de Rocambole, de Ponson Du Terrail. O vai e vem na vida dos personagens, as peripécias e imprevistos despertaram paixão fulminante. Seguiu-se Raffles, o mestre do disfarce, ladrão, cavalheiro e aristocrata e depois Arsene Lupin criação de Maurice Leblanc inspirado em Raffles, com caráter similar à aquele e igualmente rocambolesco. Estes últimos conheci em livros da biblioteca do saudoso Dr. Lavoisier Maia, em parte transferida, pela sua morte, para a casa de dois velhos amigos de infância, os irmãos Gideval e Gidevan Ribeiro. Esses autores foram contemporâneos de Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes (E. W. Homung, criador de Raffles era seu cunhado). Achava fantástico o poder de dedução de Holmes, a partir do menor indício presente. 

O Dr. Lavoisier gostava de histórias de detetives, pois foi naquele resto de sua biblioteca que conheci também Maigret, personagem criada por George Simenon, de cujas histórias nunca gostei, talvez pelo estilo seco e conciso do autor. Também por lá fui apresentado a Perry Mason, advogado que terminava sempre bancando o detetive, criação de Earl Stanley Gardner, criminalista americano. Os títulos dos livros de Earl começavam sempre da mesma maneira: O Caso da Jovem Arisca, O Caso da Noiva Curiosa, O Caso das Pernas da Sorte, etc.
 
Também as revistas Mistério Magazine e X-9 foram fontes de contos de mistério, na minha juventude, alguns deles, os mais deliciosos, contados por Ellery Queen, misto de escritor e detetive.

Nenhum desses, porém, se compara, para mim, a Agatha Christie, a rainha do crime, e seu imortal Hercules Poirot (Talvez por machismo, nunca gostei de Miss Marple). Na década de 80 a Record publicou uma coleção de suas obras. Comprei quase todas, mas já não senti a mesma emoção na sua releitura. Fiz doação a uma aluna apaixonada por aquelas histórias.

Houve, e há preconceito contra o gênero, rebaixando-se seus autores a subliteratos. Veja-se a opinião do crítico Otto Maria Carpeaux:
“Não adianta condenar os romances gótico e policial porque lhes falta o valor literário. São expressões legítimas da alma coletiva, embora não literárias, e sim apenas livrescas de reações sociais, no caso, desejos coletivos de evasão. 

Foi curioso encontrar, em uma das reedições da Coleção Mossoroense, da revista Meeting, publicada em 1953, uma defesa apaixonada do romance policial, feita por Rafael Negreiros. Observa muito bem Rafael que o atrativo de alguns grandes romances como Crime e Castigo, A Cartucha de Parma e outros, em parte se deve à feição detetivesca da obra. 

Será que o mau humor do mundo acadêmico, acerca das obras de Dan Brown, se deve a isso? Seus livros são chamados de guias turísticos, queijos suíços, pelos furos que conteriam, que são alavancados apenas pela força do marketing editorial, que tratam de temas polêmicos e outras coisas do mesmo jaez. Que bobagem, são apenas escritos de natureza detetivesca, feitos para divertir, apresentando um Sherlock diferente, especialista em simbologia. Mistérios, enigmas e suspense para aquele tipo de leitor criado por Edgar Allan Poe, caracterizado por Borges como alguém que lê com incredulidade, com desconfiança especial, louco por uma surpresa a cada página, direi eu.

Assim como li aquelas famosas obras de mistério, li também Anjos e Demônios, O Código da Vinci e O Símbolo Perdido e confesso que foram leituras quase ininterruptas. Portanto, livre do pudor de alguns homens de letras, incluo meu fictício colega, professor Robert Langdon, entre aqueles velhos detetives acima citados. Suas aventuras são de tirar o fôlego. Quando eu desejar erudição, volto a Borges, ou a Eco... e, em estado de plena liberdade, quando eu não quiser entender nada, leio Joyce.

2 comentários:

  1. O mistério, quando bem arquitetado, é fascinante, estimulante e instigante. Eu, cinéfilo assumido, assisto bem mais do que leio, mas se tem um bom enigma na trama não importa se esta em uma tela ou papel. Das obras citadas no texto, conheço um pouco mais das aventuras de Robert Langdon,Sherlock Holmes e Arsene Lupin, personagens famosos, cada um com sua especificidade e grande poder em deter atenção. Gosto muito de temas de ficção, principalmente quando se trata dos misterios do universo. Também gosto de algumas obras do Stephen King. Enfim, sou fã deste tipo de misterio.

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  2. Verdade Ewerton,veja tambem H.P. Lovecraft, com bons contos
    de misterio.Ele inspirou Stephen King.

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