sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CRENÇAS MÁGICAS DOS JUDEUS PORTUGUESES


Diz uma antiga lenda, contada pelo Rabino Samuel Ibn Virgo em seu livro Tribo de Judá, que um clérigo estudioso, do sec. XI, contara a Afonso, Rei de Castela, que quando Nabucodonosor sitiou Jerusalém, veio-lhe em auxilio o Rei Hispanis, cujo nome corresponderia à Espanha. E quando Jerusalém caiu e houve partilha dos cativos, Hispanis recebeu o quarteirão da cidade, no qual viviam as famílias aristocráticas da Casa de David. Hispanis trouxe-as para a Andaluzia, instalando-as em Toledo, Granada e Sevilha. Complementando esses informes, o também rabino, Itzahak ben Gueint, dizia que vieram à Espanha duas famílias da casa real de David: a família Ben-Daud e a família Abrabanel. A primeira teria se estabelecido em Lisboa e a segunda em Sevilha. Se verdade, estas seriam as raízes dos judeus ibéricos. O profeta Obadias, (Ob.20) escreve: ... e os cativos de Jerusalém, que estão em Sefarade, possuirão as cidades do Negeve”(Ob. 20). Sefarade, na tradição judaica é a Espanha.
O tempo passou, vieram os romanos, os godos, os mulçumanos, e por lá permaneciam os filhos de Israel. Com a reconquista da Espanha das mãos dos mulçumanos e a adoção da política de conversão dos judeus ao catolicismo, veio também a Inquisição, que vai infernizar-lhes a vida de 1478 a 1834.
A desgraça cai sobre os judeus de Portugal, com o decreto de expulsão, promulgado pelo Rei D. Manuel I, em 1496. Para onde foram esses judeus ou cristãos-novos expulsos de Portugal? Foram para o Brasil, Turquia, Marrocos, norte da África, Síria, Holanda e Itália. Muitos permaneceram em Portugal, sendo batizados em pé.
Nos países e regiões onde predominava o Islamismo, como na Turquia, pela tolerância mulçumana, os judeus continuaram sabendo que eram judeus, não perdendo a memória de sua origem e de suas crenças. Nos países sob o jugo católico, como no Brasil, a pressão inquisitorial levou-os ao esquecimento de suas origens, sobrevivendo apenas algumas práticas até hoje presentes no nosso cotidiano. Vem a calhar, a propósito, o trabalho intitulado Tradições mágicas dos judeus otomanos, publicado no nº 37, ano X, da revista Morashá, de onde colho alguns exemplos, que parecem tirados do Nordeste brasileiro. Lá, praticados por judeus, aqui, por aqueles que esqueceram sua origem.
PARA EVITAR O MAU-OLHADO:
- Pendurar ferradura ou dente de alho na entrada da casa ou de uma loja.
SOBRE CRIANÇAS:
- Se alguém passasse sobre uma criança, acreditava-se que esta não cresceria mais.  Assim, se deveria passar de volta para que isso não ocorresse.
- Acreditar que os dentes de uma criança não cresceriam se ela se olhasse num espelho.
- A pessoa que notava pela primeira vez o dente, deveria dar um presente à criança.
PARA EVITAR PROBLEMAS EM CASA:
- Não se deve sentar no lugar do qual alguém se levantou, até que o lugar esfrie.
- Não deixar tesouras aberta.
- Não deixar sapatos virados para baixo.
SOBRE DINHEIRO:
- Se a mão direita coçar vai-se fazer pagamento; se for a esquerda vai-se receber dinheiro
- Se aparecer um circulo no fundo de uma xícara de café, vai-se receber dinheiro.
São apenas alguns casos, dentre tantos publicados naquele trabalho. Com ligeiras modificações, são de conhecimento geral na nossa região, pelo menos pelos mais velhos. Originam-se nos judeus portugueses e permanecem sendo praticados pelos seus descendentes, nas várias regiões do mundo para onde foram forçados a emigrar. Não sabemos mais quem somos, mas continuamos fiéis às antiqüíssimas práticas dos nossos ancestrais.

Um comentário:

  1. Essa dos sapatos virados e de passar sobre a criança ainda é bem forte aqui no Nordeste. Me lembro como se fosse hoje do receio que todos tínhamos em relação aos chinelos virados para baixo.

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