Há algumas semanas fui com minha esposa à Livraria Potylivros, localizada na UERN e comprei o livro Mestiço é que é bom! O livro é baseado em uma longa entrevista com Darcy Ribeiro, feita, em 1995, por vários intelectuais, A ciência tem demonstrado isso. Pesquisa feita pela Universidade de Cardiff, na Grã-Bretanha, sugere que as pessoas mestiças são vistas como as mais atraentes. E cita o caso da atriz Halle Berry, a que acrescento, por conta própria e risco, para ficar no mundo das atrizes, a belíssima Jennifer Lopez. Mas o ponto de vista de Darcy, diz respeito à composição étnica do brasileiro, fadado, segundo ele, a constituir uma nova civilização nos trópicos. Diz ele: Somos melhores porque lavados em sangue negro, em sangue índio, melhorado, tropical.
Agora, neste fevereiro de 2011, noticia-se que uma pesquisa realizada com 934 pessoas representativas das várias regiões brasileiras, conduzida pelo geneticista Sergio Pena e equipe , mostra o quanto estamos realmente mestiçados. Afirma Pena, em entrevista à Folha de São Paulo, que isso seria o resultado da chamada política do branqueamento, defendida por estadistas e intelectuais nos séculos XIX e XX. Destacam, também, o que já sabíamos, isso é, que os genes da cor da pele e dos cabelos, são muito poucos, parte desprezível da herança genética, embora seu efeito seja muito visível, mas por baixo da pele, somos bem uniformes.
Chamo a atenção para os dois extremos da pesquisa. A amostragem daqueles que se identificaram como brancos no Rio Grande do Sul, por mais branquelos que fossem, apresentaram 5,3 % de genes africanos, e na Bahia, a morena mais frajola, possui, por mais escura que seja sua pele, 53,9 % de genes europeus. Nenhum isento de sangue índio.
Em 1991, publiquei, no jornal Tribuna do Assu, um artigo intitulado Da Inferioridade Negra, onde procurava mostrar, a irracionalidade do racismo entre nós. Louvava-me, em pesquisa com resultado semelhante, já produzida pelo mesmo cientista, publicada na Ciência Hoje, nº 50 de 1989, para mostrar o quanto estávamos misturados e quão errados estávamos em considerar inferiores os de pele escura.Em determinado ponto do artigo disse:
Nesse fim de século, confirmando uma previsão do Presidente Roosevelt, os Estados Unidos da América, assumem, solitários, a posição de xerifes do mundo. É a potencia maior. Pois não deveria ser, se os negros fossem de fato inferiores como insensatamente ainda insistem alguns.
Destaquei, então, as figuras negras que dirigiam a capital Washington e as forças armadas daquele grande país do Norte. Naquele ano, o mestiço Obama acabava de se formar em Direito na Universidade de Harvard e nem sonhava em se tornar o cumprimento da profecia de Monteiro Lobato no seu livro O Presidente Negro.
Mas que ninguém se engane, Monteiro Lobato, apenas dava asas, no seu romance, às idéias racistas defendidas por Le Bon em L’Homme et les Sociètes (1881) onde afirmava que os seres humanos foram criados desigualmente, e assim, a miscigenação seria um fator de degeneração racial. Idéias, hoje, completamente desacreditadas pela ciência, mas que deixaram raízes profundas nas crenças populares.
Como muito bem diz o grande antropólogo na entrevista, pela capacidade de miscigenação de portugueses e espanhóis, já lembrada também por Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala, estávamos fadados à salutar mistura. Em consequência, diz Darcy, somos hoje, a nova Roma, os representantes dos latinos e coexistiremos, no futuro, ao lado de milhões de árabes, neobritânicos e chineses. A explicação de sermos a continuação dos romanos é feita de forma irreverente:
Somos a maior massa latina. Os franceses ficaram tocando punheta, os italianos bebendo chianti, os romenos com medo dos russos, quem saiu fodendo por aí foi espanhol e português e fizemos uma massa de gente que é de 500 milhões.(pg. 105 de Mestiço é que é bom)
Na entrevista Darcy conta, também, a hilariante tentativa de acasalar-se com uma francesa virgem, que deu em nada, mas essa é uma outra história sobre miscigenação.