Faz dias, num encontro de amigos e entre uma cerveja e outra, um deles rememorava, com o devido carinho e respeito, seu pai já falecido, de quem por sinal herdara o nome e as características espirituais. Manoel Reginaldo da Rocha, teria sido, além de grande maçom (é nome de Loja Maçônica em Pau dos Ferros), bom charadista.
E nesse universo das charadas novíssimas mergulhamos, recordando o passado. Nos meus bons tempos de adolescente, fui um adepto de todas as atividades intelectuais que um menino pobre do Bairro Paredões podia alcançar: jogo de xadrez, de damas, palavras cruzadas, charadas etc. Vários amigos se engajavam também nesses passatempos deliciosos. Lembro dos irmãos Gilberto e Geraldo Couto, em especial este último.
Elaborávamos charadas freneticamente. Dávamos um jeito de fazer chegar aos demais, com rapidez, as nossas últimas produções. Lembro que mais de uma vez encontrei, pela manhã, folhas de caderno com o desafio, que fora passada por debaixo da porta. A partir daí, gastávamos o resto do dia tentando matar a charada. Até pouco tempo, o confrade Gilbamar de Oliveira Bezerra, autor de Aquele Homem Crucificado, apelidava-me de Charada, vinculando-me ao filme de igual nome que passara no antigo Cine Cid, aí pelo início da década de 60, estrelado pelos inesquecíveis Cary Grant e Audrey Hepburn.
Infelizmente essas atividades hoje estão esquecidas da nossa juventude. Ao fazer ou matar charadas ou palavras cruzadas, aumentávamos o nosso vocabulário e exercitávamos a nossa maquina mental. É bom lembrar que o grande escritor cearense, José de Alencar, foi um adepto do charadismo, afirmando que se aprimorou através dessa atividade. Desse tempo restou, na minha biblioteca, o Dicionário Técnico para Charadas e Palavras Cruzadas, escrito por Sylvio Alves, numa edição de 1977. Hoje, o vocabulário utilizado nas redes sociais fala por si, da pobreza vocabular daqueles sobre quem recairá o futuro do nosso país.
As charadas ainda são publicadas por alguns jornais e revistas, mas sempre como coisa de velhos. Existem em várias formas: novíssimas, sincopadas, aferesadas, casais etc. Nas novíssimas, nossa especialidade, existe o que se chama de pedras e o conceito, com a indicação das sílabas correspondentes. São as palavras-chaves. Quanto mais formem uma frase com significado, tanto mais elegantes e perfeitas. Colho na internet um exemplo simples: Aqui na terra tem dança de guerra. (1- 3). Solução: aqui, com uma sílaba = cá, terra, com três = poeira, que juntas formam uma novíssima palavra = capoeira.
Durante a conversa com o Manoel e demais irmãos, lembrei-me de uma que fiz e entreguei a Geraldo Couto como desafio. Fez sucesso à época, não tanto pela dificuldade (se bem que demoraram a mata-lá), mas pela forma, envolvendo a palavra charada. Coloquei como título desse post: A charada é um pouco difícil (3 – 2). Um senhor da vizinha cidade de Areia Branca conseguiu resolveu o enigma.
Naquela noite, claro que depois de tanta cerveja, tive dificuldade em lembrar a resposta, mas lembrei, afinal de contas a charada é um pouco difícil. Reproduzo-a aqui matando a saudade de um tempo que não volta mais, e novamente esperando sua solução.